Vândalos ameaçam reservas e parques

por André Candreva publicado 26/03/2018 16h10, última modificação 26/03/2018 16h10

CONSELHEIRO PENA – Vandalismo ameaça pinturas rupestres e formações geológicas do conjunto de grutas do Parque Estadual de Sete Salões, em Conselheiro Pena, no Vale do Rio Doce. A passagem para uma das sete cavernas desmoronou e a principal está sendo descaracterizada pela ação de vândalos. Além das pichações e rabiscos feitos com faca, a fumaça das fogueiras e churrasqueiras improvisadas está alterando a cor natural da rocha, que é de arenito, mas repleta de quartzito.
De acordo com o Instituto Estadual de Florestas (IEF) a solução é monitorar a visitação, processo que só deve começar quando o órgão assumir, de fato, a unidade de conservação.

 

O Parque Estadual de Sete Salões foi criado em 22 de setembro de 1998 (decreto 39.908) e ocupa área de 12.520,90. Ele fica na divisa das cidades de Conselheiro Pena, Resplendor, Santa Rita do Itueto e Itueta e não é aberto à visitação. No entanto, os 150 proprietários de terras que esperam indenização do Estado para saírem do local, não têm controle de quem entra ou sai. Segundo o gerente da unidade, biólogo Anderson Selvatti, o IEF mantém um monitor que percorre a área em uma moto, mas, sozinho, ele não consegue controlar todos os acessos.

 

A estruturação depende do julgamento de uma ação que tramita na Justiça, ajuizada pelos índios Krenak da aldeia de Resplendor, que reivindicam a área. Os indígenas alegam que os fazendeiros são posseiros. “Até que tudo se resolva, nosso trabalho ficará limitado a palestras de educação ambiental e conscientização”, justifica o gerente Selvatti, contando que nas datas comemorativas como dias da Árvore e da Água, os estudantes e a comunidade são informados sobre a importância do Parque. Eles aprendem, por exemplo, que alguns morcegos que habitam as cavernas são dispersores de sementes, e a mata, que protege as nascentes, guarda também a “cura” para várias doenças.

 

“É através do plano de manejo que vamos definir áreas de uso, forma e dias da semana para a visitação. Até lá vamos contar com a ajuda, em especial dos que moram aqui dentro do parque, para protegê-lo”, explica o gerente, contando que um grupo multidisciplinar está sendo formado para levantar as necessidades para a preservação da unidade. Uma delas é o cercamento da área para facilitar o monitoramento. “A prioridade será sempre a conservação do Parque. O turismo, uma consequência”, avisou.

 

Segundo o gerente, as pinturas rupestres ainda estão em boas condições. Isto em função da dificuldade de acesso aos paredões onde estão - sem os guias é quase impossível encontrá-las. No entanto, ele teme que os vândalos descubram o caminho até elas. As pinturas são monitoradas pelo “guarda-parque” Ednilson Alves Medeiros, 29 anos, que percorre a área em uma moto. Ele lamenta não conseguir dar a mesma proteção às grutas para impedir a depredação e o abandono de lixo.

 

“Sempre converso com os turistas, aviso sobre os riscos que existem e cuidados que devem ter quando estiverem por aqui, mas basta virar as costas e eles fazem tudo o que não pode. Apesar disso, a situação por aqui já foi bem pior. Aos poucos estão aprendendo”, diz o monitor, que trabalha há dois anos no IEF, mas cresceu solto nas matas do Parque de Sete Salões. A experiência e conhecimento dos acessos o transformaram em uma referência do lugar, principalmente quando é preciso socorrer turistas que se perdem na mata ou orientar brigadistas, em caso de incêndios.

 

Fonte: Hoje em Dia