Universidades unidas pela educação de qualidade

por André Candreva publicado 26/03/2018 15h48, última modificação 26/03/2018 15h48

A ideia de unir sete universidades federais promete inovar o meio educacional. A intenção é criar um consórcio com instituições de ensino superior – Universidades Federais de Alfenas (Unifal), Itajubá (Unifei), Juiz de Fora (UFJF), Lavras (Ufla), São João del-Rei (UFSJ), Ouro Preto (Ufop) e Viçosa (UFV) – que vai garantir a integração acadêmica nos campos de ensino, pesquisa e extensão. A iniciativa busca ainda formas mais eficientes e eficazes para a utilização racional de recursos, parcerias para o desenvolvimento e troca de tecnologia, além da atuação em áreas estratégicas e discussão de soluções para os problemas sociais da região, do país e do mundo.

A proposta ainda está no campo das ideias, mas já foi apresentada ao ministro da Educação, Fernando Haddad, durante uma reunião, realizada no dia 19 de julho, em Brasília, com os reitores das universidades. No dia 3 de agosto, novo encontro, que acontecerá em Belo Horizonte, servirá para apresentar o projeto mais elaborado. Segundo o reitor da UFSJ, Helvécio Luiz Reis, as universidades já começaram a preparar um plano de ação para apresentar a proposta e mostrar como o projeto será desenvolvido. A partir daí, a proposta começará a tomar forma.

A iniciativa, pioneira no Brasil, surgiu a partir da constatação de que as universidades tinham características em comum que facilitavam a junção. Uma das que foi levada em consideração foi a proximidade geográfica, tida pelo reitor da UFV, Luiz Cláudio Costa, como um importante diferencial. “Costumo dizer que a região é um vale do saber. O importante é a gente entender que é a única região do Brasil que tem sete universidades com 200 quilômetros de raio que as separa”, apontou o reitor.


Isso, segundo ele, aliado aos cursos de graduação e pós-graduação das universidades que se complementam, fazem com que o consórcio surja naturalmente, o que não acontece com outros grupos de instituições estaduais.


No conjunto, essas universidades têm campi em 17 municípios do Sudeste de Minas Gerais e atendem polos de educação a distância em 55 cidades. Elas reúnem 3,5 mil professores, 4 mil técnicos administrativos, 41 mil alunos de graduação e 5,3 mil de pós-graduação. Em 260 cursos presenciais, elas oferecem 15,6 mil vagas de ingresso anualmente, excetuando as oferecidas pelos 111 cursos de mestrado e 59 de doutorado.

Na graduação, de acordo com dados do Ministério da Educação (MEC), todas contam com índice geral de cursos (IGC) entre 4 e 5. Na pós-graduação, 15 programas têm nível 5; cinco têm nível 6 e dois nível 7 (o mais alto).

Mesmo com qualidade de ensino, muitas dessas universidades podem não chegar jamais a fazer parte do ranking das 500 maiores do mundo. Pelo menos é o que acredita o reitor Helvécio Luiz Reis. A Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) já foram enquadradas na lista que avalia a produção acadêmica. “Por mais que a gente cresça, vamos levar muito tempo para figurar em um ranking desses. Se nos associarmos, teremos mais chance para isso”, acredita Helvécio.


Mesmo com o consórcio, as universidades não perderão a autonomia. “Cada uma terá seu reitor e seus conselhos universitários. O que faremos é uma convergência de ações”, contou Helvécio Luiz Reis. As universidades podem se especializar no que trazem de diferencial, sem abandonar nenhum curso. Nessa perspectiva, a Unifal, por exemplo, poderia aprimorar ainda mais os cursos da área da saúde, uma vez que já é conhecida pela excelência nessa área. Já a UFV poderia desenvolver mais os cursos voltados para o setor agrário, e a Unifei para a área tecnológica.

Como nada está completamente definido ainda, as ideias podem mudar ao longo do processo de formação do consórcio. Luiz Cláudio Costa não defende o desenvolvimento por áreas. Para ele, as universidades têm que crescer igualmente. “Teremos uma grande universidade, com atuação em todas as áreas. Será um sistema em solidariedade”, defendeu o reitor da UFV. Mesmo com a autonomia, um único plano de desenvolvimento institucional (PDI), que orienta os rumos da universidade, será formado em consonância com o plano de cada instituição.

Outro ponto que não deve mudar é a divisão das verbas entre as universidades. Os recursos são encaminhados às instituições de ensino superior levando em consideração o número de alunos. O que pode mudar é a quantidade de recursos disponibilizados. Como as universidades têm uma ação muito forte junto aos deputados mineiros na Câmara Federal, a expectativa é que o consórcio se fortaleça e consiga mais recursos.

Em relação à unificação também dos vestibulares, ainda não é possível dizer o que será feito. A tendência pode ser, inclusive, que as universidades decidam aderir ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que já é uma forma de unificar os testes seletivos.