Teatro na rua desperta jovens e adultos para a história de Congonhas

por André Candreva publicado 27/03/2018 10h15, última modificação 27/03/2018 10h15

Fonte: Secom / Prefeitura de Congonhas

 

Um dos cenários mais marcantes de Congonhas foi palco da encenação de um fragmento da história de seu próprio cotidiano na noite deste sábado, 15. Moradores da Ladeira Bom Jesus, fieis que saiam da Santa Missa celebrada na Igreja de São José Operário e outras pessoas de todas as faixas etárias atraídas pela possibilidade de se divertirem, com mais uma atração do XXII Festival de Inverno de Congonhas, e aprenderem um pouco sobre a história de Congonhas foram assistiram à interferência teatral “200 tons de fé”. O jovem ator de origem pernambucana e erradicado na Cidade, Lucas Padovani, é autor do texto, diretor da peça e contracena com outro novo talento, Maísa Silva. Eles são da Trup Caldeirão de Teatro.

 

A interferência foi preparada especialmente para esta edição do Festival de Inverno e se assemelha ao espetáculo “O Salão da Cleusa”, do mesmo grupo, que retratava personalidades históricas da Cidade dos Profetas, porém esta nova dá maior atenção ao que acontece ao redor da Igreja da Ladeira. “Fiquei sabendo do aniversário de 200 anos de devoção a São José Operário em Congonhas. Aí pensei: tenho de criar alguma coisa que fale sobre esta data. Comecei a ‘pescar’ algumas conversas de moradores nas janelas. Tudo o que rodeia esta Igreja eu resolvi contar no teatro. Procurei informações sobre o Carnaval e o Jubileu também, que são festas que modificam o ritmo da cidade toda”, conta o autor da peça.

 

Sobre a experiência de se apresentar praticamente a céu aberto, já que utiliza a janela de uma casa e a calçada durante a apresentação, Lucas diz que “é gratificante se apresentar na rua, exige mais de voz, de corpo, porque o público fica menos atento por causa dos barulhos e outros imprevistos. Mas o retorno do público foi é muito bom, ele se torna mais caloroso porque ficamos mais próximos dele. Tudo aconteceu em torno da casa onde ficamos”, relata.

 

A opinião do público presente reforça o sentimento do artista. José Lima, do Boa Vista, morador de Congonhas desde 1954, além de se divertir, afirmou que a intervenção pra ele foi como uma aula de história. “Com tanto tempo na cidade, não conhecia fatos que foram contados por esses dois garotos. Eles são muito bons, muito inteligentes”, comentou.

 

Maria das Graças, do Zé Arigó, acompanhou a Santa Missa na Igreja de São José Operário e aproveitou para assistir ao espetáculo ao lado da filha Gabriela, que riu o tempo todo, mas ficou tímida na hora da entrevista, que deixou para mãe conceder. “Foi maravilhoso porque este espetáculo retratou a história de Congonhas, tratou dos eventos que são comemorados na cidade, como os 200 anos da nossa devoção a São José Operário. Foi bom ouvir também sobre o Carnaval e o Jubileu”, comemora.

 

Nara, da Basílica, levou os filhos Ingred, Fernanda e Miguel para ver o espetáculo. Ela sempre acompanha o que pode da programação do Festival de Inverno. “O teatro faz a gente rir, esquecer as tristezas,  conhecer o passado e pensar no futuro. Este espetáculo conta um pouquinho de cada coisa que diz respeito a Congonhas. E às vezes buscamos informações sobre outros lugares, e não nos importamos com o que acontece na nossa. E tem muita coisa que agrada a gente aqui em Congonhas, não precisamos só ficar procurando fora, precisamos valorizá-la, já que se trata de uma cidade histórica e muito bem falada no Brasil e no exterior”, lembrou com orgulho.

O interessante é que Nara se viu representada na própria encenação. “Minha filha gostou muito da parte do Jubileu. Na hora da distribuição do pão de queijo, ela disse: - Olha mamãe, ele tá fazendo como a senhora. É que eu juntamente com mais dois amigos vendemos quitanda com café no período da festa, subindo a ladeira e ainda fazemos nossa propaganda cantando. Quando chegamos lá em cima, o cesto e a garrafa já estão vazios”, contou emocionada.  

 

A intervenção atraiu a atenção dos mais novos também para saberem mais sobre Congonhas, que, não custa lembrar, é reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural Mundial. Clícia, da Praia, de 19 anos, afirmou que “espetáculos como este fazem a gente que é mais jovem ter o interesse por aprender sobre a história da cidade despertado. Quando ia fazer trabalho de escola sobre Congonhas, não era fácil encontrar livros sobre o tema. A origem do Jubileu mesmo eu não conhecia bem e agora tenho pelo menos uma noção. Sei que agora há livros sobre isso no Museu. Melhor ainda porque o espetáculo aconteceu ao ar livre, aqui na Ladeira Bom Jesus, por exemplo, que faz parte desta história”, declacara entusiasmada.

 

Beatriz, do 3º ano da Escola Estadual Feliciano Mendes, já fez aulas de teatro, mas não o suficiente para perder toda a timidez. Mesmo assim resolveu contribuir para esta reportagem porque gostou muito da apresentação da Trup Caldeirão de Teatro. “Tudo que ouvi sobre a história aqui de Congonhas eu não sabia. Sabia sim que acontece o Jubileu, mas não como ele surgiu. Achei muito bacana e a gente precisa saber mais da cidade da gente, pesquisando nas bibliotecas. Sobre o Carnaval, eu tinha ouvido falar que teve escolas de samba, mas também só isso. Sei que Zé Arigó (1921-1971) foi um médio”. Durante a reportagem, se espantou ao ser informada ainda que o primeiro bispo negro da Igreja Católica e primeiro arcebispo de Mariana foi o congonhense Dom Silvério (1840-1922), que era membro da Academia Brasileira de Letras, e se sentiu ainda mais instigada a pesquisar sobre sua terra.