Teatro da Assembleia de portas abertas para a democracia

por André Candreva publicado 27/03/2018 10h53, última modificação 27/03/2018 10h53

Fonte: ALMG

 

O ano era 1992. O dia, uma segunda-feira após a fracassada convocação do então presidente Fernando Collor de Mello, que era acusado de corrupção, para que a população vestisse verde e amarelo em apoio a seu governo. Num clima político agitado, que culminou com o afastamento do primeiro presidente democraticamente eleito no Brasil após o golpe militar de 1964, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) inaugurava o seu Teatro, um dos primeiros a funcionar dentro de uma casa legislativa.

 

Em 17 de agosto, na peça que inaugurou o palco do Teatro da Assembleia, os atores copiaram a população que foi às ruas na véspera e se vestiram de preto. Foi uma apresentação-protesto da peça “Ações Ordinárias”, que narrava a escusa relação entre empresas e políticos no caminho da corrupção. A atriz Elizabeth Savalla protagonizava o espetáculo e a indignação com o momento político do Brasil.

 

A política e a arte marcavam uma nova era. Belo Horizonte ganhava uma moderna sala de espetáculos que era também um espaço de aproximação com o trabalho parlamentar. “O Teatro começou bem sintonizado com a questão política do País”, lembra a servidora da ALMG e atriz Cláudia Bento, que acompanhou a implantação do espaço e hoje é sua gestora.

 

Legislativo mais próximo dos cidadãos

 

O então diretor-geral da ALMG, Dalmir de Jesus, explica que a implantação do espaço foi uma das estratégias estabelecidas pela Casa para aumentar a interação com os cidadãos. Segundo ele, o Poder Legislativo acabou se distanciando dos cidadãos durante a ditadura militar. “Com a abertura democrática, a Assembleia precisava se mostrar para a sociedade”, relembra.

 

Constatada essa necessidade, foi traçado um plano que abrangeu várias frentes, como a criação da Escola do Legislativo, a interiorização do trabalho das comissões e a abertura da Praça Carlos Chagas para o uso da população.

 

“A Assembleia tornou-se uma porta aberta para a sociedade. Além disso, havia muitos talentos artísticos e poucos espaços disponíveis, especialmente para os anônimos”, afirma Dalmir de Jesus.

 

O presidente da ALMG, deputado Adalclever Lopes (PMDB), também destaca a importância do espaço para a democracia e a cultura. "O Teatro da Assembleia, 25 anos depois de sua inauguração, continua cumprindo seu papel, trazendo a população para dentro do Parlamento e valorizando a cultura de Minas", ressalta.

 

Espaço para grandes nomes e jovens talentos

 

A consolidação do Teatro ficou a cargo de um trio de servidores da ALMG: Cláudia Bento, Luiz Carlos Moreira, o Ludovikus, e Edivaldo Cândido de Souza, conhecido como Dinho. Cláudia Bento lembra que o espaço foi inaugurado num momento em que a vida cultural brasileira passava por um movimento inverso: fechavam-se centros culturais para dar lugar a empreendimentos empresariais.

 

Com capacidade atual para 145 pessoas, incluindo três lugares para acomodar cadeiras de rodas, o local foi idealizado para ser um dos mais bem equipados de Belo Horizonte. Dinho, atual chefe de palco do Teatro, lembra que foram adquiridos os mais modernos equipamentos existentes. A mesa de luz, por exemplo, totalmente digital, foi a segunda do País – a outra estava no Teatro Nacional de Brasília.

 

Ele destaca também o tratamento acústico, que oferece qualidade de som para o artista e para o público. “O ator pode falar de costas, que é ouvido perfeitamente e não precisa elevar a voz”, diz Dinho. O técnico afirma que o espaço foi implantado com capacidade para abrigar qualquer tipo de espetáculo. “É o único da cidade que promove uma aproximação entre palco e plateia”, completa Ludovikus.