Sucessão de erros leva o MEC a cogitar possibilidade de novo Enem

por André Candreva publicado 26/03/2018 16h20, última modificação 26/03/2018 16h20

A sucessão de erros no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) leva o Ministério da Educação (MEC) a cogitar a aplicação de novas provas para alunos prejudicados pelas falhas. A hipótese foi anunciada na noite de domingo, pelo presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Joaquim José Soares Neto. Em nota, o Inep, órgão ligado ao MEC e responsável pela avaliação, informou que novo teste só ocorreria em último caso, beneficiando apenas os candidatos que receberam o caderno de provas de cor amarela com erros de impressão, no sábado.

As falhas registradas no primeiro dia de testes – além da confusão com as provas amarelas, houve problemas com a impressão do gabarito de todos os candidatos – levaram a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Ministério Público Federal (MPF) a cobrar investigação e levantar a possibilidade de pedir a anulação do teste.

Nesse domingo, a credibilidade do exame foi novamente abalada por dois episódios, registrados em Minas Gerais e em Pernambuco, envolvendo uso de telefone celular durante a avaliação. Em Belo Horizonte, um estudante foi detido no câmpus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a suspeita de fotografar partes da prova e publicar as imagens na internet. Segundo a Polícia Federal, responsável pela investigação do caso, o jovem de 18 anos alega que teria feito uma espécie de “pegadinha” para ridicularizar o concurso.

Na versão dele, o celular não teria sido usado durante a prova e as fotos publicadas na rede seriam dos testes aplicados no sábado. O estudante teria alterado a data nas imagens usando um programa de computador e a publicação no Twitter teria sido agendada para a tarde de domingo.

“Vamos apurar e ver qual das versões procede. Se ficar provado que ele usou o celular enquanto fazia as provas, um inquérito policial será instaurado", afirma o delegado da Polícia Federal Alexandre Chaves de Andrade. A organização do Enem proíbe o uso de telefones e outros aparelhos eletrônicos, mas não há detectores de metal ou qualquer outro tipo de revista que impeça os alunos de entrar com os aparelhos.

O Estado de Minas procurou o Inep para se pronunciar sobre o episódio, mas não obteve resposta. Em Pernambuco, um jornalista que fazia as provas driblou a segurança e enviou, de dentro do banheiro, mensagens de celular revelando o tema da redação. O Ministério da Educação informou que o repórter será processado por cometer um ato ilícito, atentando contra as regras do Enem, e que o caso não compromete a segurança do exame.

Novo Enem

A possibilidade da reaplicação do teste é um sinal de esperança para candidatos revoltados pela sequência de falhas na prova no sábado. Conforme o Estado de Minas informou na edição de domingo, alguns lotes do caderno amarelo de provas continham erros de impressão e questões duplicadas. Em nota, o Inep informou que levantamentos iniciais indicam que menos de 1% dos estudantes receberam o caderno amarelo com falhas. E desse número, ainda estão sendo apurados quantos tiveram as provas substituídas e quantos foram mal orientados pelos fiscais ou se recusaram a trocar a prova. Cada caso será avaliado separadamente e, no limite, a prova será reaplicada para esses candidatos.

Trata-se de uma tentativa de corrigir falhas consideradas desastrosas pelo presidente da OAB, Ophir Cavalcante. “A Ordem dos Advogados do Brasil está solidária com os estudantes e com as suas famílias. É um erro que se repete e, por isso mesmo, deve ser apurada a participação das autoridades responsáveis por mais um desastre na área da educação, principalmente porque é de conhecimento público que o próprio Ministério da Educação pressionou as universidades a adotarem o Enem como avaliação para ingresso", disse Cavalcante.

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Candidatos que se sentiram prejudicados pelas falhas no Enem poderão fazer requerimento de correção especial da prova pela internet, a partir de quarta-feira. Mas a possibilidade não é suficiente para acalmar estudantes como Amanda Augusta de Lima Almeida, de 16 anos, que lamenta os prejuízos e promete procurar a Justiça. “Vou até as últimas consequências, pois o Enem significa a chance de conquistar uma vaga na universidade e até mesmo uma bolsa de estudo no ProUni (Programa Universidade para Todos)”, disse a mãe de Amanda, a dona de casa Marília Almeida, de 47.

Apesar dos transtornos decorrentes de problemas pontuais, o segundo dia de provas foi de tranquilidade em Belo Horizonte. Sem a chuva torrencial que atingiu a capital no sábado, tumultuando o trânsito e deixando locais de prova sem energia elétrica, o domingo transcorreu sem ocorrências mais significativas nos principais locais de teste.

 

Fonte: Estaminas