Senna - Reencontro com o homem e o mito

por André Candreva publicado 26/03/2018 16h21, última modificação 26/03/2018 16h21

A história do piloto brasileiro Ayrton Senna (1960-1994) tinha tudo para dar um bom filme de ficção, daquelas obras edificantes em que a ascensão de alguém lembra aos espectadores que, com o devido esforço, todos podem chegar ao topo do mundo. Poderia, também se transformar num documentário daqueles tradicionais, que alternam imagens de seu objeto com depoimentos sobre ele. Segundo seus realizadores, o diretor Asif Kapadia e o produtor James Gay-Rees, Senna, que chega hoje às telas, fugiu dessas duas opções. É, sim, um documentário; mas busca formas próprias na maneira como leva às telas a trajetória do mais bem-sucedido astro do automobilismo brasileiro.

Segundo os realizadores, uma das grandes críticas que fazem ao documentário “tradicional” é a maneira como os depoimentos são abordados: imagens paradas das pessoas entrevistadas enquanto falam sobre o assunto do filme. A solução adotada por Senna foi simples: colocar os depoimentos em off, só no áudio do filme, enquanto são mostradas outras imagens supostamente mais emocionantes. Tal solução, contudo, talvez não valesse para qualquer documentário, pela escassez ou o desinteresse das imagens que poderiam ser editadas. O próprio tema de Senna, contudo, resolveu essa questão: poucos eventos no mundo são registrados de maneira tão intensa quanto os campeonatos de Fórmula 1. E poucas personalidades da Fórmula 1 tiveram sua vida tão assediada pela mídia quanto Ayrton Senna.

Os realizadores receberam ajuda de lugares que, para muitos, foram inesperados. A família de Ayrton Senna, por exemplo, quase sempre temerosa de qualquer iniciativa que, potencialmente, possa comprometer a memória do ídolo, aderiu sem restrições ao projeto. O apoio mais surpreendente, contudo, veio de uma instituição que, normalmente, é vista como uma espécie de caixa-preta pela maioria dos mortais: a própria administração da Fórmula 1. O projeto recebeu o apoio de Bernie Ecclestone, o homem mais poderoso no mundo das corridas, e por meio dele, aos arquivos que incluíam imagens de tudo o que se refere à Fórmula 1 – inclusive as reuniões de suas entidades.

Com isso, Senna propõe aos espectadores um reencontro com o homem e o mito. Com o cidadão comum e o herói que enfrentou, frequentemente, os poderosos de seu esporte. Algumas vezes venceu, algumas vezes perdeu. Não importa: para os fãs que, até hoje, se lembram das inacreditáveis manobras de Ayrton Senna, o que sempre interessou foi sua postura, seu exemplo, sua atitude. E Senna pretende investigá-las dramaticamente, assim como tentar descobrir o indivíduo por trás delas.

 

Fonte: Estaminas