Queimadas impõem emergência

por André Candreva publicado 26/03/2018 15h53, última modificação 26/03/2018 15h53

As queimadas das últimas semanas fizeram com que cidades do Tocantins e de Mato Grosso, Estados das regiões Norte e Centro-Oeste, respectivamente, decretassem estado de emergência por conta dos estragos provocados pelo fogo. Dos 139 municípios tocantinenses, ao menos 20 estão nessa situação. Já no Mato Grosso, um incêndio provocou a destruição do pólo industrial da cidade Marcelândia e, em Peixoto de Azevedo, as chamas destruíram assentamentos da reforma agrária.

 

No caso dos dois Estados, a decretação do estado de emergência, feita pela administração das cidades atingidas, agiliza a liberação de verbas públicas para recuperar o que foi destruído e dar início a obras sem necessidade de licitação.

 

Em Goiás, o fogo também atingiu áreas que ficam dentro do Parque Nacional das Emas, do Parque Estadual Serra de Caldas Novas e do Parque Estadual da Serra dos Pirineus. Mas, segundo a Defesa Civil do Estado, as reservas ficam longe das cidades e, por isso, o fogo não causou danos expressivos à população. Já em Mato Grosso do Sul, a situação de emergência pode ser decretada quando a umidade relativa do ar cair para 12% e causar problemas aos moradores, explica o coordenador da Defesa Civil do Estado, Ociel Ortis Elias.

 

No último dia 11, o fogo destruiu cerca de cem casas e 17 serrarias de Marcelândia (MT). Os estabelecimentos comerciais formam um pólo industrial da cidade que é responsável por manter economicamente ao menos cem famílias, explica coordenador de Resposta a Desastres e Reconstrução da Defesa Civil de Mato Grosso, major Elton Guilherme Crisóstomo.

 

"A situação de emergência foi decretada por causa da destruição causada pelo incêndio. A queimada desestabilizou a economia da cidade e os trabalhadores estão temporariamente sem seus postos de trabalho".

 

Em Peixoto de Azevedo (MT), o fogo destruiu áreas de assentamento da reforma agrária, onde havia plantações de alimentos e pastos de gado. As causas do incidente ainda não foram esclarecidas, mas é bastante comum que agricultores usem o fogo como técnica rudimentar para limpar a camada superficial do solo.

 

Já no Tocantins, o Corpo de Bombeiros sobrevoou nesta semana a Ilha do Bananal para identificar os focos de incêndio que destruíam a reserva. Na semana passada, a Guarda Metropolitana conseguiu controlar o fogo que destruiu 60% dos 90 mil hectares do Parque Estadual de Lajeado. A área atingida equivale a 54 mil campos de futebol (a área de um campo tem cerca de um hectare) e é maior que o município de (SP), que tem 796 milhões de metros quadrados. Esses e outros pontos de incêndio no Estado, como o Parque Estadual do Lajeado, fizeram com que 20 cidades decretassem situação de emergência.

 

Segundo a Defesa Civil Estadual, a situação costuma ser crítica nessa época do ano também em cidades do sudeste do Tocantins, onde o período de estiagem (que começa em abril e vai até setembro) é mais intenso. Em 2007, pior seca registrada na região, 17 cidades decretaram emergência por conta da baixa umidade relativa do ar. Até a publicação desta reportagem, o órgão estadual não havia feito um levantamento para identificar quais cidades estão nessa situação neste ano.

 

Ranking das queimadas

 

Levantamento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra que, no Brasil, existiam nesta semana cerca de 12,5 mil focos de queimadas, principalmente em Mato Grosso, Estado com o maior número de focos de incêndio (4.126). O Pará ocupa o segundo lugar do ranking, com 3.458 registros de incêndio. O número de queimadas tende a aumentar por conta da presença de uma grande e forte massa de ar seco que vai bloquear o avanço de uma frente fria no Sul do Brasil.

 

Ainda de acordo com o instituto, de três focos de incêndio registrados hoje na América do Sul, dois acontecem em território brasileiro. O segundo e terceiro lugar são ocupados por Bolívia e Argentina, respectivamente. A meteorologista especialista em queimadas do Inpe Raffi Agop explica que o tamanho do país e a maior atividade e desenvolvimento agrícola ajudam a criar esse cenário. Com o vento, também característico do inverno, os focos de incêndio se espalham com muito mais facilidade.

 

"Ainda há uma forte cultura de uso da queimada para “limpar” o solo. Até por isso ela é proibida nos meses mais secos, em agosto e setembro, mas muitos agricultores ainda utilizam essa técnica. No cerrado, as chances de o fogo sair do controle e se espalhar são muito maiores".

 

A baixa umidade do ar e o consequente aumento de queimadas neste ano também provocaram a piora da qualidade do ar nos Estados de Mato Grosso, Tocantins, Pará, Rondônia e Amazonas. Segundo o Inpe, a concentração de monóxido de carbono (CO) na atmosfera em agosto foi até 20 vezes maior que no início do ano nessas regiões.

 

O aumento da quantidade do gás na atmosférica pode trazer uma série de problemas como doenças respiratórias, agravamento de quadro alérgico e rinite. A concentração de CO aumenta também a mortandade, particularmente de crianças e pessoas idosas.

 

Fonte: Hoje em Dia