Primeira linha postal do estado completa 280 anos

por André Candreva publicado 26/03/2018 15h29, última modificação 26/03/2018 15h29

Mariana – Carina Nunes, de 22 anos, é filha das chamadas gerações Orkut e Twitter, as principais redes de relacionamento da atualidade no Brasil. Mas seu hobby preferido nasceu séculos antes de o computador se tornar um bem indispensável ao dia a dia de muitas famílias. Ela gosta mesmo é de escrever cartas. E faz isso com frequência: a jovem se corresponde com 110 pessoas de várias cidades do país e do exterior. Nos últimos anos, o antigo meio de comunicação que a seduziu perdeu espaço para o avanço da tecnologia. Tanto que as cartas trocadas exclusivamente entre pessoas físicas representam apenas 5% do volume movimentado diariamente pelos Correios em Minas. O percentual, apesar de baixo, corresponde a 175 mil envelopes transportados pela estatal, que, este ano, comemora uma data especial: os 280 anos da primeira linha postal no estado, criada em 29 de outubro de 1730.

O ramal era formado por três dos principais centros urbanos do Brasil-Império (1822/1889): São Sebastião do Rio de Janeiro, São Paulo e Vila Nossa Senhora do Carmo, primeiro batismo de Mariana, na Região Central, a 115 quilômetros de Belo Horizonte. O lugarejo era tão importante para a economia do país que foi o primeiro em terras alterosas elevado à categoria de vila, em 1711. Dezenove anos depois, surgiria a importante linha postal. “Até então, havia a linha administrativa, ou seja, só ocorriam trocas de correspondências oficiais. Com o novo ramal, surgiu a linha democrática, aberta a todos”, diz o professor e pesquisador Cristiano Casimiro, um dos maiores estudiosos sobre Mariana.

Ele cita um artigo assinado, na década de 1970, pelo falecido – porém imortal – pesquisador Waldemar de Moura Santos, fundador da Academia Maraniense de Letras, para ilustrar o marco da linha postal: “Em 29 de outubro de 1730, João Lopes de Lima, de Atibaia (SP), vindo com o seu irmão Francisco Augusto de Lima e o padre Manoel Lopes, (…) de comum acordo com o governador Arthur de Sá Menezes, estabeleceu uma linha de correio ambulante entre Rio, São Paulo e Mariana”. A sede da primeira agência dos Correios em Minas foi um casarão erguido na Praça Cláudio Manoel, em frente à Catedral Basílica Nossa Senhora da Assunção, chamada por muitos fiéis de Igreja da Sé.

O imponente imóvel, de dois andares, perdeu o último pavimento, em 1909, por falta de manutenção. Ainda assim, o prédio ajuda a manter vivo o passado da ex-vila. Enquanto sede dos Correios, foi um dos endereços mais nobres da rica Capitania de Minas Gerais, pois, naquela época, a maioria das cartas era entregue aos destinatários na porta das agências. A distribuição das correspondências era sinônimo de festa em qualquer lugarejo do Brasil-Império. É fácil entender o porquê: as mensagens, transportadas em malas de couro, acomodadas sobre o lombo de burros, demoravam cerca de três meses para chegar ao destino.
De lá para cá, muita coisa mudou: as correspondências não tardam tanto tempo a chegar aos destinatários, mas perderam espaço para a comunicação vias telefone – tanto o fixo quanto o celular – e internet. “Apesar dos avanços, não há nada mais gostoso do que você chegar em casa e ver um envelope com o seu nome. É sinal de que alguém estava pensando na gente”, diz a jovem Carina, que só esta semana recebeu quase uma dezena de envelopes.

 

Fonte: Estaminas