Pesquisa mostra que 63% dos jovens mineiros ignoram livros

por André Candreva publicado 26/03/2018 16h19, última modificação 26/03/2018 16h19

A leitura ainda está longe de entrar para a rotina de lazer e cultura do jovem mineiro. A primeira edição da Pesquisa por Amostra de Domicílio (PAD), realizada entre junho e dezembro de 2009 pela Fundação João Pinheiro, em 18 mil lares de 308 municípios do estado, revela que o hábito de ler livros inexiste para 63% dos entrevistados com idade entre 14 e 24 anos.

Segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), o índice de leitura no Brasil aumentou 150% nos últimos dez anos – passou de 1,8 livro por ano, em média, para 4,7. Apesar do crescimento, a presidente da entidade, Sônia Machado Jardim, diz que o brasileiro ainda lê pouco em comparação à população de países mais desenvolvidos. Hoje é o Dia Nacional do Livro.

De acordo com o PAD, a principal atividade de lazer do jovem ainda é a televisão: 81% dos entrevistados afirmaram assistir algum tipo de programa todos os dias, contra 8% dos que disseram manter o hábito diário da leitura.

A pesquisa, que abordou ainda temas como saneamento básico e escolaridade, servirá aos municípios e ao Estado como ferramenta para a implementação de políticas públicas. A principal característica da PAD é revelar aspectos das diferentes regiões de Minas, permitindo a comparação entre elas, além de manter dados atualizados. Enquanto o Censo brasileiro ocorre de dez em dez anos, a pesquisa da Fundação João Pinheiro será realizada a cada dois. A próxima edição está prevista para 2011.

“Há períodos em que os dados do Censo ficam muito defasados e ficamos sem saber o que acontece. O levantamento federal também não permite a comparação por regiões, e esse será nosso maior diferencial”, explica Nícia Raies Moreira de Souza, coordenadora da PAD.

Os dados poderão ser comparados a partir dos seguintes itens: BH/Demais municípios de Minas, urbano/rural, RMBH/não metropolitano, mesorregiões e regiões de planejamento (Noroeste, Norte, Rio Doce, Mata, Sul, Triângulo, Alto Paranaíba, Centro-Oeste, Jequitinhonha/Mucuri e Central).

Gestores públicos poderão avaliar, por exemplo, a relação do baixo índice de leitura com a escolaridade média, que é maior nas áreas urbanas (6,8 anos) e menor nas rurais (4,8 anos). “A pesquisa servirá de termômetro para se avaliar se os investimentos públicos têm tido resultados”, explica Nícia Raies.

Autora da trilogia “Fazendo meu filme”, que já vendeu mais de 16 mil livros, a escritora mineira Paula Pimenta, 35 anos, cultiva o gosto pela leitura desde criança. “Meus pais não me davam apenas brinquedos, mas muitas obras interessantes que aguçavam a curiosidade. É o que outros pais devem fazer”.

Na avaliação dela, as escolas têm um papel fundamental no incentivo à leitura. “A literatura clássica é importante, mas as bibliotecas deveriam oferecer também títulos gostosos de se ler, como Harry Potter e Crepúsculo. Livros populares estimulam a leitura. Depois o jovem vai procurar obras mais profundas”, afirma Paula.

A pesquisa avaliou também a taxa de analfabetismo, que ficou em 9,2% em Minas. O menor índice está na RMBH (5,9%). A situação mais crítica se encontra no Jequitinhonha/Mucuri (21,4%), onde há uma discrepância conforme as faixas etárias – entre os mais jovens, com idade entre 15 e 19 anos, o analfabetismo é de 2,8%, ante 40% das pessoas entre 55 e 59 anos.

Falta rede de esgoto em 10% dos domicílios

Em relação ao saneamento básico, 3,1% dos domicílios mineiros não possuem água encanada e 10% estão desprovidos de rede de coleta de esgoto.

Os entrevistados também realizaram uma autoavaliação da saúde. A maioria se considerou em boas condições (48,2%). Apenas 3,5% disseram estar com a saúde ruim ou muito ruim. A pesquisa constatou que as avaliações pioravam conforme o avanço da idade.

 

Fonte: Hoje em Dia.