Neurologista alerta para excesso de estimulação em crianças

por André Candreva publicado 26/03/2018 16h31, última modificação 26/03/2018 16h31

Há uma receita infalível para educar filhos no mundo de hoje? Eles não vêm com manual de instrução, mas os pais se perguntam cada vez mais o que e como fazer para criar filhos inteligentes e saudáveis, geração que nasceu com todos os recursos tecnológicos à disposição, incluindo televisão, internet, Ipod, Ipad e jogos virtuais interativos. A preocupação tem tudo a ver, pois uma pesquisa divulgada recentemente por uma empresa inglesa de segurança na internet revelou que, de cada 10 crianças menores de 5 anos, uma sabe amarrar os sapatos, mas sete usam facilmente o mouse do computador. De acordo com especialistas do Istart/Movimento Criança Mais Segura, 25% dos bebês já têm perfil em redes sociais antes de nascer.

Não há pai ou mãe que não se preocupe com o excesso de estimulação provocada por brinquedos eletrônicos, que fazem tudo praticamente sozinhos, bonecas que choram, fazem xixi, escovam dentes, parecidas com bebês de verdade, além de equipamentos quase perfeitos para recém-nascidos, com funções nunca imaginadas pelos avós.

O neurologista da infância e da adolescência Rodrigo Carneiro, de 42 anos, diz que qualquer excesso é condenável e a qualidade dos estímulos é fundamental para o desenvolvimento da criança. “O artista principal do cérebro são os neurônios, que se organizam em circuitos e sinapses (conexões de um neurônio com o outro). Portanto, quanto mais precoce a estimulação cerebral, mais possibilidades de interferir nessa organização do sistema nervoso central.”


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Nos dois primeiros anos de vida principalmente há uma grande plasticidade cerebral. “A neurologia infantil trabalha em cima dessa plasticidade, da capacidade de o sistema nervoso central se modificar e se adaptar frente a algum estímulo externo. O cérebro de uma criança recém-nascida é como se fosse um cimento fresco que você pode moldar. Ele ainda não está formatado. Com o tempo e o amadurecimento, o cérebro vai endurecendo, por isso é preciso ser exercitado em todas as fases da vida.” E cita a cientista Marian Diamond, que sentencia: “Ou você usa ou você perde”, garante. Ele não vê riscos em uma criança que sabe manipular o mouse, usar a internet e jogos interativos, mas tudo deve ser feito de forma ordenada, bem direcionada para não gerar estresse ou sobrecarga.

O que uma criança precisa para se desenvolver de forma harmônica com todas as funções neurológicas em dia? “Não só aprender a andar, a correr, a falar, mas também a se socializar. Certos pais, por exemplo, descobrem um talento musical no filho e só o estimulam nesse sentido, esquecendo-se dos outros. A tecnologia também tem uma função benéfica, desde que usada na dose certa . O mais importante na vida de uma criança é desenvolver habilidades que lhe proporcionem independência nas atividades diárias, como alimentação, vestuário, bem-estar físico e emocional. Para isso, as crianças têm que brincar ao ar livre, desenvolver a coordenação motora, o equilíbrio e a consciência corporal por meio de atividades lúdicas e criativas.”

Indagado sobre a educação de seus filhos, Isabela, de 12, e Lucas, de 10, se eles são inteligentes e estimulados em todos os sentidos, Rodrigo Carneiro responde: “Eles são felizes! Um adulto que não foi uma criança feliz, por mais inteligente que seja não se tornará uma pessoa completa”, avisa.

 

Fonte: Estaminas