Município à caça de R$ 1 milhão para salvar igreja

por André Candreva publicado 26/03/2018 15h33, última modificação 26/03/2018 15h33

ITACAMBIRA - Um milhão de reais para garantir a última etapa da restauração. Conseguir o montante é o desafio da histórica Igreja Matriz de Santo Antônio, neste município do Norte de Minas. O templo, erguido em 1707, ficou mundialmente famoso depois que o escritor João Guimarães Rosa o escolheu para batizar a personagem “Diadorim”, na obra literária “Grande Sertão Veredas”.

A esperança do chefe do Departamento de Cultura e Turismo de Itacambira, Antônio Neto da Silva, é de que o valor seja captado por meio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura, para concluir a reforma.

As obras necessárias incluem a reforma da estrutura, iluminação, pintura e piso da igreja. Também prevê intervenções no telhado. No ano passado, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) recuperou todos os elementos artísticos, como as imagens, trono e púlpito da matriz. Na época, foram gastos R$ 300 mil, repassados pelo ICMS Cultural. Agora, a expectativa é pela liberação de R$ 1 milhão do Fundo Estadual de Cultura ou pela captação com empresas, através da Lei Rouanet.

Antônio lamenta que existam poucas informações sobre a igreja e até mesmo sobre o motivo pelo qual o escritor João Guimarães Rosa a escolheu para citar em sua obra mais famosa. No livro, o templo é onde acontece o batizado do personagem Diadorim.


“Além disso, sabemos que em toda a América Latina não existe uma igreja com um altar como daqui. Porém, não há nenhum registro sobre a autoria desta obra”, diz.

Igreja sob ameaça desde 1965

Esta é a terceira restauração da matriz. Há 45 anos, ela chegou a correr o risco de desmoronar, mas foi salva por iniciativa do padre José Gabriel, que respondia pela paróquia. Notando que a igreja passou a apresentar inclinação e podia ruir, ele deu início à primeira reforma.

Já em 2006, como o telhado estava todo danificado e a ocorrência de chuvas comprometia a igreja, foi feita a troca do telhamento, em serviço coordenado pelo arquiteto Décio Durães. A intervenção foi supervisionada pelo Iepha, já que trata-se de uma igreja tombada pelo estado. O cuidado garantiu, por exemplo, que vários tipos de telhas na cobertura fossem trocados seguindo um modelo uniforme.

Tombada pelo Iepha em 1998, a igreja foi construída no início do século XVIII a mando do bandeirante paulista Fernão Dias, um caçador de esmeraldas. Entre seus destaques está o altar de madeira, com estilo único existente em toda a América Latina, identificado como Rococó.

Outro atrativo é o telhado seguindo a época da construção, em estilo colonial, feito com encaixes de madeira.

Um grande porão onde eram depositados os mortos também é um tesouro histórico. Atualmente, dezenas de ossadas permanecem ali, apesar de muitas terem sido retiradas. Entre os moradores, a crença é de que os restos mortais sejam de escravos que construíram a igreja.


A matriz mantém cinco imagens, diversos adornos e objetos originais da época de construção. Feitas em argila, as imagens de Santo Antônio, Nossa Senhora dos Passos, São Sebastião, São Gabriel e Santo Agostinho foram restauradas em 1988, com o altar- mor, em madeira trabalhada, e todo o piso da igreja, em madeira e pedra, mantendo as características originais.

O engenheiro e historiador Geraldo Afonso Gomes é o maior pesquisador sobre Itacambira e fez questão de buscar informações sobre sua cidade natal no Museum Ultramarino, em Lisboa. Ele criou a ONG Itacambira Verde com o propósito de viabilizar a preservação ambiental e histórica do município, pois saiu de Itacambira com oito anos e foi morar em Belo Horizonte, sem saber detalhes de onde nasceu.

O altar da igreja de Santo Antônio, na sua avaliação, é do estilo Barroco Oriental, pois como Portugal criou colônias no Oriente, como Macau, trouxe artistas daquela parte do mundo para construir igrejas em suas áreas de influência. Isso deixou a matriz de Itacambira com a prerrogativa de ser a única no Brasil a ter um altar construído com base na cultura oriental.