Migração de traficantes cariocas causa preocupação nos estados

por André Candreva publicado 26/03/2018 16h24, última modificação 26/03/2018 16h24

A ação da polícia fluminense e do Exército, que sufocou fortes pontos de tráfico em morros do Rio de Janeiro, colocou em alerta as secretarias de segurança pública de outros estados. O principal receio é que os traficantes que escaparam do cerco na Vila Cruzeiro e no conjunto de favelas do Alemão busquem refúgios em estados próximos até que a poeira das operações comece a baixar. O Colégio Nacional de Secretários de Segurança Pública (Consesp) esteve reunido ontem, em Brasília, com a tarefa de traçar os pontos de apoio dos criminosos fora do Rio de Janeiro.

O plano detalhado para ampliar a operação de cerco ao narcotráfico será traçado pelo Consesp em conjunto com a Polícia Federal, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Secretaria Nacional de Segurança Pública, em reunião marcada para a semana que vem em local a ser determinado. “O que há de novo é uma tensão, uma vigilância nas vias de acesso ao estado numa eventual possibilidade de migração de pessoas que estejam diante de perseguição no Rio de Janeiro para o estado. Não apenas para Minas Gerais, mas para São Paulo, Espírito Santo, para todos os estados que fazem divisa”, disse o secretário de segurança de Minas Gerais, Moacyr Lobato.

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O temor dos secretários em relação à migração de criminosos para outros estados, porém, se contrapõe às autoridades federais, que não acreditam que os traficantes possam se distanciar do Rio. A justificativa seria o problema com ambientação em outras regiões do país, além da falta de público consumidor garantido como havia em alguns pontos de vendas em favelas e morros da capital fluminense. Na avaliação da área de inteligência da União, outro fator que poderia impedir a fuga do tráfico para fora do Rio são outras organizações já existentes.

“Normalmente, o traficante do Rio nasceu na favela onde atua e faz a carreira no narcotráfico na própria comunidade, começando como aviãozinho até chegar à chefia. Ele quase não sai da favela”, explica o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto. Segundo Barreto, a possibilidade de migração de outras facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) – que atua em São Paulo – para o Rio, também é improvável, mesmo com o enfraquecimento das organizações fluminenses. “Dificilmente o PCC, por exemplo, se estabeleceria no Rio”, reforçou o ministro.

Na Polícia Federal a posição é praticamente a mesma de Barreto. Setores da inteligência da corporação ainda não observaram risco de migração de traficantes para outras regiões. Delegados que atuam no setor advertem, entretanto, que ainda é cedo para fazer uma avaliação, já que o episódio do Complexo do Alemão ocorreu há apenas uma semana.

Ontem, parte da droga recolhida pelas operações na Vila Cruzeiro e no Alemão começou a ser incinerada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ). Cerca de 42 toneladas de maconha e cocaína, entre outros entorpecentes, foram ao forno. O transporte do material pela polícia civil demandou um esquema especial ao longo da Via Dutra – principal estrada de acesso entre o Rio e Volta Redonda. A expectativa é de que os entorpecentes sejam completamente destruídos até o fim do dia de hoje.

 

Fonte: Estaminas