MG exporta biotecnologia com preço até 133 mil vezes superior ao minério
As exportações de Minas Gerais ganham novo perfil. O estado do minério e do aço teve um desempenho altamente positivo em exportações de produtos biotecnológicos no ano passado e a tendência de expansão está consolidada. Esses produtos, embora ainda representem pequena parcela na pauta, têm a vantagem de preços até 133 mil vezes maiores. É o caso da tonelada do sêmen bovino (US$ 6,124 milhões) em relação ao minério de ferro (US$ 45). E tem mais: Minas responde por vedetes embarcadas para o exterior. É responsável por 100% das vendas brasileiras de lentes intraoculares, é praticamente o único e grande exportador de válvulas cardíacas e detém dois terços da insulina e produtos à base de insulina. Também participa com destaque do comércio de sêmen e embriões de animais, bovinos para reprodução, plantas e sementes para uso medicinal e cosmético.
A pesquisadora da Fundação João Pinheiro, Elisa Maria Pinto da Rocha, responsável por estudo baseado nos números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), destaca a importância do elevado conteúdo de informação, conhecimento e tecnologia incorporado nos produtos biotecnológicos. Sobretudo em um momento em que se discute se estaria em curso um movimento de “reprimarização das exportações”, ou seja, exportações se concentrando crescentemente em commodities e produtos de baixo valor agregado. “Além das cifras, incorpora conhecimento à pauta. Isso quer dizer que desenvolve pesquisas, gera mão de obra qualificada e aproveita profissionais mestres e doutores. É uma categoria diferenciada de produtos, que exige uma competência completamente distinta”, diz.
As exportações das empresas mineiras de biotecnologia apresentaram comportamento inverso da média mineira. Enquanto os embarques de produtos fabricados no estado para o exterior caíram de US$ 24,4 bilhões em 2008 para US$ 19,5 bilhões em 2009, retração de 20%, as exportações do segmento saltaram 62,6%, passando de US$ 124,7 milhões para US$ 203 milhões. “A comparação da performance das exportações de produtos biotecnológicos entre Minas e o conjunto do país ( 62,6% e -7,6%, respectivamente) confirma, também, a excepcional performance, mesmo considerando o cenário de crise que caracterizou a economia mineira e brasileira no último ano”, afirma Elisa Maria.
O presidente da Inova Biotecnologia Saúde Animal, Hugo Zanocchi, diz que a expectativa é intensificar as exportações. A empresa, instalada em Juatuba, Região Central de Minas, uma joint venture formada pela Hertape Calier e Eurofarma, acaba de investir R$ 85 milhões no desenvolvimento de vacina antiaftosa e prevê atender a demanda dos países sul-americanos a partir de junho. “Aglutinamos a experiência biológica da Hertape Calier com o poder comercial da Eurofarma, um dos grupos farmacêuticos mais importantes do Brasil e com participação na área veterinária. Estamos em Juatuba, em um sofisticado polo industrial, perto de faculdades e de mão de obra qualificada. Realmente, Minas Gerais vem crescendo nessa área”, afirma Zanocchi.
Potencial
A Alta Genetics é outro exemplo do potencial mineiro. De acordo com a gerente-administrativa, Daniela Lopes, no primeiro trimestre a empresa canadense, cuja matriz brasileira fica em Uberaba, no Triângulo, vendeu 30 mil doses de sêmen bovino da raça zebuína para melhoramento genético, mais que o montante comercializado em todo o ano passado, quando foram embarcadas 23 mil doses. “Exportamos cada vez mais. Temos uma matriz com mais de 100 funcionários e uma equipe que já ultrapassa a marca de 600 vendedores”, afirma. Os principais países de destino são Colômbia, Panamá, Venezuela e Paraguai. Exporta ainda para a África, Egito e Canadá, em outros.
“Embora haja reconhecimento geral sobre a relevante contribuição de Minas no cenário brasileiro das exportações de produtos siderúrgicos e extrativo-mineral – para os quais responde por 37% e 23% do total nacional, respectivamente –, certamente é pouco conhecido o fato de o estado ser praticamente o único exportador nacional de lentes intraoculares e válvulas cardíacas para o resto do mundo”, enfatiza Elisa Maria. Jorge Duarte de Oliveira, diretor da Central Exportaminas, ligada {a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede), acrescenta que o setor de biotecnologia é um dos que mais influenciam o resultado da diversificação da pauta mineira de exportação. Segundo ele, em 2008, 1.728 empresas exportaram 2.704 itens. Em 2009, menos empresas (1.664) embarcaram mais itens (2.861) para o exterior. “Esses produtos podem reduzir nossa dependência do minério e do aço”, diz.
Fonte: Estado de Minas
