Metais pesados e esgoto doméstico estão matando o Rio Paraopeba

por André Candreva publicado 26/03/2018 16h06, última modificação 03/02/2020 13h33

O Rio Paraopeba luta contra a poluição. Dados do Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (Cibapar), que realizou uma expedição de 20 dias, encerrada nesta quinta-feira (23), indicam que 90% dos 35 municípios por onde passa o rio não tratam o esgoto doméstico. Foram percorridos os 537 quilômetros do curso d’água, de Cristiano Otoni, a Felixlândia, ambas na Região Central.

 

Uma equipe de seis navegadores desembarcou nesta quinta na chamada Barra do Paraopeba, na represa da Cemig na cidade onde o Paraopeba deságua no Rio São Francisco. Mesmo com a sensação de um rio mais limpo nos quatro últimos dias da expedição, para os navegadores, não devem ser esquecidas as cenas dos trechos anteriores, altamente poluídos – como em pontos a menos de dez quilômetros da nascente e nas cidades industrializadas da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

 

Análises preliminares feitas pelo Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (Cibapar), entidade organizadora da expedição, já apontavam alta quantidade de metais pesados nos locais mais poluídos do rio, onde é comum a presença de substâncias cancerígenas cromo total, cádmio e chumbo.

 

Segundo o secretário executivo do Cibapar, Mauro Costa Val, grande parte do material tóxico é despejado no Paraopeba pelos seus 43 afluentes. O biólogo sanitarista da expedição, André Baxter, explica que os metais pesados existem em pequenas concentrações no ambiente, sem risco de danos à saúde humana ou às plantas. Porém, adverte, se a acidez das águas aumentar, pode ocorrer reações químicas ao cromo total, que se torna exavalente, ou seja, altamente cancerígeno se acumulado no organismo.

 

O Cibapar e a UFMG estudam a relação entre a atividade mineradora e a contaminação dos rios pelo cromo total. Ainda não há data para a divulgação dos resultados. Em Congonhas, na Região Central, a atividade das mineradoras e das siderúrgicas é comum e, aparentemente, compromete a qualidade da água do Rio Maranhão, importante afluente do Paraopeba, que está assoreado em vários pontos no trecho próximo ao Paraopeba.

 

Outro problema é a falta de oxigênio nas águas. No entroncamento do Paraopeba com o Rio Betim, informa o biólogo sanitarista André Baxter, a taxa de oxigenação é nula. O afluente, que corta o município de Betim, um dos mais industrializados de Minas Gerais, contribui decisivamente com essa poluição, assim como outras cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Nesse trecho, é encontrado lixo orgânico e químico das indústrias metalúrgicas”, afirma Costa Val.

 

A ausência de oxigênio foi constatada por técnicos das empresas Geosam e Clean Environment do Brasil, que fizeram medições com uma sonda nas paradas culturais da expedição pelo Paraopeba. Baxter confirma que a concentração nula de oxigênio por litro de água no Rio Betim ocorre em virtude do lançamento de esgotos industriais e domésticos sem tratamento, o que impede a ocorrência de qualquer tipo de vida aquática. “A poluição dos rios afluentes é que degradam a qualidade das águas do Rio Paraopeba”, resume o biólogo sanitarista, que defende a implantação de estações de tratamento e a melhora na eficiência das existentes.

 

A Prefeitura de Betim garantiu que a despoluição do afluente do Paraopeba está em andamento. Segundo a assessoria de imprensa, uma estação de tratamento de esgoto doméstico, no valor de R$ 74 milhões, foi inaugurada em junho, com capacidade para atender 370 mil pessoas. O Rio Sarzedo e o Ribeirão do Cedro também carreiam poluição até o Paraopeba. Os cursos d’água, localizados entre os municípios de Ibirité, Mário Campos, Sarzedo, Caetanópolis e Paraopeba, são duramente impactados por esgoto doméstico e industrial.

 

Fonte: Hoje em Dia