Mestrandos e doutorandos da Fiocruz e da UFMG protestam na Pampulha

por André Candreva publicado 26/03/2018 18h38, última modificação 26/03/2018 18h38

Fonte: Estado de Minas

 

Apitos, narizes de palhaço e muitas faixas. Estas foram as armas utilizadas pelos mestrandos e doutorandos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) durante um protesto realizado, na tarde desta quarta-feira, no campus da UFMG na Pampulha. Pacífica e barulhenta, a manifestação teve como objetivo chamar a atenção para a necessidade de um reajuste nas bolsas de pesquisa oferecidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ambas congeladas há quatro anos. Como não dirigimos ônibus nem fazemos a segurança do carnaval na Bahia, não adianta greve, mas temos que pelo menos chamar a atenção para o debate, disparou Armando de Menezes Neto, doutorando em Ciências da Saúde pela Fiocruz e um dos organizadores do movimento em Belo Horizonte.

 

Durante o protesto, os pesquisadores ocuparam as principais vias do campus e caminharam de prédio em prédio, passando pelos departamentos de Ciências Exatas, Biológicas, Filosofia e Ciências Humanas. A cada novo instituto, mais mestrandos e doutorandos aderiam à ação puxada pelos pesquisadores da Fiocruz e dos laboratórios de Química e Física da UFMG. Entre as paradas, a reitoria, onde os manifestantes cobraram apoio do reitor da universidade, Clélio Campolina, ao movimento. Há quatro anos sem aumentar, a bolsa tem que valorizar, cantavam os pós-graduandos - atualmente, CNPq e CAPES oferecem bolsas para mestrandos e doutorandos de R$ 1200 e R$ 1800, respectivamente. Honestamente, hoje em dia não dá mais para se viver com a bolsa, principalmente as pessoas que são do interior e vem para um pólo de excelência em cursos de pós-graduação como Belo Horizonte, criticou Menezes Neto. Entre estes pós-graduandos, está a doutoranda da Fiocruz Caroline Macedo, que veio de Curvelo, no Centro de Minas. Ela explica que precisa bancar com o valor da bolsa as despesas da profissão, como congressos e publicações, e os custos de morar em outra cidade. Para você ter uma ideia, ainda dependo da ajuda dos meus mais, exemplificou.

 

O manifesto realizado nesta tarde faz parte da paralisação de 24 horas nas pesquisas de pós-graduação, articulada pela Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG). Em Minas, também estão previstas ações na PUC Minas (onde deve ser instalado um contador com os dias sem reajuste), na Universidade Federal de Lavras (UFLA) e na Universidade Federal de Viçosa (UFV), que no início do mês organizou uma festa de aniversário para as bolsas. Os protestos acontecem duas semanas após a publicação de uma reportagem pelo Estado de Minas relatando a realidade de quem depende das bolsas para sobreviver.


Entre as principais reivindicações dos pós-graduandos estão direitos trabalhistas e uma maior agilidade para a aprovação do PL 2315/2003, de autoria do Deputado Jorge Bittar (PT-RJ), que atrela os valores das bolsas ao salário dos docentes – o projeto tramita na Câmara desde 2003. O pesquisador é praticamente uma pessoa ausente da sociedade durante seu doutorado, já que ele trabalha, mas não contibui (com a previdência) e não tem direitos trabalhistas, pontua Laura Xavier, doutoranda em Química pela UFMG e uma das articuladoras do movimento na universidade.
 


Outro ponto em debate pela ANPG é a validade da Portaria Conjunta CAPES/CNPq nº 01/2010, que cria a possibilidade dos pós-graduandos trabalharem e receberem a bolsa, desde que em atividades de interesse para sua formação acadêmica, científica e tecnológica. Essa não é uma saída porque o mercado não absorve todo mundo e alguns cursos realmente precisam de dedicação exclusiva. O correto realmente seria uma política de valorização das bolsas, opina Armando Menezes.


O protesto dos pesquisadores foi pacífico e atraiu a atenção de professores e muitos olhares curiosos na UFMG. Enquanto graduandos aplicavam trotes nos calouros do Instituto de Ciências Exatas, os seguranças da universidade optaram por acompanhar os pós-graduandos e organizar o trânsito no campus, que fluiu sem problemas. O único momento tenso aconteceu em frente a reitoria, quando um dos homens da segurança nacional das universidades começou a fotografar os manifestantes, que questionaram o objetivo da fotos.

 


Segundo a ANPG, estão marcados protestos nas universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), Santa Catarina (UFSC), Ceará (UFC) e Goiás (UFG). Também estão previstas ações na Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná; na Fiocruz, no Rio de janeiro; e na Universidade do Estado do Pará (UEPA). Em São Paulo existem ações agendadas na USP Leste, PUC, USP Ribeirão e UFSCar.