Médicos brasileiros já preservam mamilo em cirurgias de câncer de mama

por André Candreva publicado 27/03/2018 06h37, última modificação 27/03/2018 06h37

 Fonte: Estaminas

 
Pesquisadores da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) têm agora condições de reduzir o número de mastectomias mutiladoras em pacientes com câncer de mama, 
graças a estudos efetuados em São Paulo, que usaram exames de ressonância magnética e de congelação que identificam se o tumor comprometeu ou não o mamilo, contribuindo 
para a sua preservação na cirurgia.
 
A associação dos dois métodos já está sendo adotada, na prática, no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), segundo o coordenador do estudo, 
José Roberto Piato: Quando se associa os dois (exames), consegue-se preservar o mamilo com uma segurança enorme. Só tiramos o mamilo, hoje em dia, quando ele está 
tomado pela doença e não indiscriminadamente, mutilando as mulheres, como se fazia sempre.
 
A ideia é estender isso para toda a prática clínica, no país, inclusive no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), diz o coordenador do estudo José Roberto Piato. 
O grande problema, explica, é a reconstrução do mamilo, que aparece como principal causa de insatisfação em uma cirurgia plástica de reconstrução mamária.
 
O primeiro estudo envolveu 170 pacientes de câncer de mama residentes em São Paulo. As mulheres, submetidas à mastectomia clássica, de retirada completa de glândulas 
mamárias, pele, auréola e mamilos, fizeram ressonância magnética, que é um exame de imagem, para verificar se havia invasão tumoral do mamilo.
 
Membro da SBM, José Roberto Piato explica que, tradicionalmente, a mastectomia inclui a remoção da auréola e do mamilo: De uns tempos para cá, temos tentado fazer 
cirurgias mais conservadoras, no sentido de preservar o mamilo, porque o resultado estético é muito melhor. Isso é importante para a cabeça da paciente. A mama compõe 
a imagem corporal da mulher e a preservação do mamilo interfere com a questão da sexualidade e com a feminilidade.
 
O esforço, conforme Piato, é no sentido de preservar o mamilo mas, quando existe um tumor na mama, muitas vezes ele se estende até o mamilo, de forma até microscópica, 
que não é visível a olho nu. Nessas situações, é importante que o mamilo seja removido.
 
Finalidade estética
 
Os métodos desenvolvidos objetivam mostrar em que situações o câncer se estende ou não até o mamilo. Na ressonância magnética, é injetado um contraste no sangue que 
costuma ser captado pelo tumor de mama como uma espécie de brilho, chamado realce.
 
Essas pacientes, antes de terem as mamas removidas, foram submetidas a esse exame, relata Piato. Os pesquisadores tentaram, então, determinar se as variantes analisadas 
tinham relação ou não com o comprometimento do mamilo. As mamas removidas foram encaminhadas ao patologista, enquanto o radiologista revia os exames de ressonância efetuados.
 
José Roberto Piato informa que quando o exame de ressonância mostra um realce que se estende de forma contínua desde o tumor até a papila (mamilo), 
a chance de comprometimento do mamilo é alta. 
Quando não existe esse realce contínuo, em 90% das vezes, o mamilo está livre (do câncer).
 
Outro achado importante apontado pela ressonância magnética é que quando o mamilo está retraído ou repuxado, a chance de comprometimento é grande. Agora, quando não existe 
nenhum dos dois, se não tiver nem o realce se estendendo do tumor até a papila, nem a retração da papila, a chance de ela estar livre é mais que 90%, assegura Piato.
 
Esse estudo é complementado por outro, com a mesma finalidade de descobrir se o tumor chegou ou não ao mamilo, também coordenado pelo mastologista e publicado na revista 
internacional European Journal of Surgical Oncology no final do ano passado. A diferença é que ele é feito na hora da cirurgia por um exame de congelação, segundo o médico:
Removemos um tecido atrás do mamilo e entregamos para o patologista. Ele faz uns cortes de congelação e olha no microscópio. Se estiver livre, não tiramos o mamilo. 
Enquanto o exame de ressonância dá 90% de segurança para os cirurgiões, o exame de congelação permite 99% de segurança, revela Piato.
 
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), ligado ao Ministério da Saúde, o Brasil terá este ano 57.960 novos casos de câncer de mama. 
A incidência da doença tem aumentado entre 1% a 2 % ao ano.