Mata Atlântica nas mãos de internautas Áreas de reflorestamento, escolhidas por meio do site Clickarvore, receberão 201 mil mudas de espécies nativas

por André Candreva publicado 26/03/2018 16h10, última modificação 26/03/2018 16h10

Está nas mãos de internautas de todo o país a escolha de áreas da Mata Atlântica que serão reflorestadas em quatro estados brasileiros. O projeto Clickarvore, desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica, vai doar 201 mil mudas de espécies nativas do bioma para propriedades localizadas em Minas, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná.

A quantidade recebida por cada região será definida por meio de uma votação aberta no site do projeto (www.clickarvore.com.br). Quantos mais votos a área concorrente tiver, maior será o percentual de mudas que ela vai ganhar, e o internauta junta pontos para o jogo virtual Desafio Verde.

Das quase 24 milhões de mudas doadas em dez anos do Clickarvore, 1.675.944 foram distribuídas a propriedades mineiras. As plantas foram cultivadas em 639,73 hectares, área equivalente a 774 campos de futebol do tamanho do Mineirão, e outros 350,75 hectares ainda estão sendo reflorestados.

Se a votação aberta no último mês tivesse sido encerrada ontem, o Estado ganharia pelo menos 46.230 (23%) das mudas distribuídas nesta seleção, quantidade suficiente para o restauro de 27 hectares de Mata Atlântica, correspondente a 32 estádios.

A iniciativa é uma tentativa de recuperar áreas degradadas da Mata Atlântica. O Estado mineiro, de acordo com a última edição do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, divulgado neste ano, é o que mais desmatou no período de 2008 a 2010: 12.524 hectares. O índice é 15% maior que o registrado no levantamento anterior.

Se Minas possuía originalmente 46% do seu território coberto pelo bioma, hoje conta apenas com 9,64%. “Os problemas começaram na colonização, principalmente por causa dos ciclos de produção de café. Hoje persistem em virtude de produtores que não estão conscientes de que a área pode ser produtiva sem prejudicar o bioma, e da transformação da mata nativa em carvão para abastecer a indústria siderúrgica”, afirma a gerente de Restauração da SOS Mata Atlântica, Ludmila Pugliese.

A preservação da Mata Atlântica, considerada o bioma mais importante, significa melhoria da qualidade do ar, pois sequestra o carbono, acumulando-o dentro das plantas, e ameniza as temperaturas. “Também proporciona a melhoria da qualidade da água com a filtragem dos sedimentos levados para os rios e absorve água das chuvas, evitando grandes enchentes. E o ambiente sempre fica mais agradável quando se tem uma floresta”, observa.

Interessados devem se inscrever até 24 de maio

Para receber as mudas, no mínimo 2 mil, proprietários de terras particulares, órgãos públicos e reservas naturais poderão se inscrever no edital publicado no site do programa até 24 de maio do ano que vem. O início do plantio está previsto para dezembro de 2011. Em Minas, as espécies doadas são da Mata Atlântica regional, como ipê, jatobá, jequitibá e aroeira.

Os participantes deste edital também ganharão recursos financeiros para aplicar nas atividades agropecuárias da propriedade. A verba será calculada de acordo com o número de mudas recebidas. Porém, o incentivo somente será concedido se a plantação estiver bem cuidada, o que será avaliado por uma equipe da fundação três anos após o plantio.

“Para mostrar ao proprietário que é possível restaurar sem parar a produção”, enfatiza Ludmila. “Infelizmente não será possível voltar a mata original, mesmo por que muita área foi suprimida para a construção de cidades. O reflorestamento é uma forma de manter a fauna e a flora do bioma”, afirma a superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas.

Se o proprietário é bonificado por plantar e cuidar das espécies, o internauta também é incentivado a participar. Ao fazer a escolha no site, ele junta pontos que se transformam em melhorias em sua fazenda virtual no game Desafio Verde, tornando a propriedade mais sustentável com o plantio e as atividades agrícolas e pecuária. “De forma lúdica, são apresentados os benefícios da restauração florestal tanto para o meio ambiente como para o ser humano”, diz Ludmila.

MG e ES terão R$ 2,5 milhões

O Instituto Terra, criado pelo fotógrafo Sebastião Salgado, espera receber, até o final deste mês, o montante de R$ 2,5 milhões para reflorestar 155 hectares de Mata Atlântica em Minas Gerais e no Espírito Santo. O recurso, oriundo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), também vai permitir equipar o viveiro da instituição, destinado à produção de sementes de espécies nativas do bioma. “A documentação solicitada já foi encaminhada, e a nossa expectativa é que a verba saia ainda em outubro”, enfatiza o superintendente-executivo do Instituto, Adonai Lacruz.

Parte dos recursos será investida no reflorestamento de 55 hectares da Fazenda Bulcão, em Aimorés, no Vale do Rio Doce, primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) criada em área degradada da Mata Atlântica. Os outros 100 hectares serão recuperados na Reserva Ecológica de Itapina, em Colatina, no estado capixaba. “O nosso objetivo não é somente produzir árvores, mas trazer de volta a biodiversidade da Mata Atlântica. Existem espécies da fauna que somente sobrevivem nela, e acabam morrendo se forem transferidas para outro habitat”, afirma Lacruz.

A Secretaria Estadual de Meio Ambiente foi procurada para falar sobre os projetos para a Mata Atlântica em Minas. Porém, em virtude do feriado prolongado, nenhum responsável foi localizado.

 

Fonte: Hoje em Dia