Indústria mineira acumula quedas e pisa firme no freio

por André Candreva publicado 26/03/2018 18h06, última modificação 26/03/2018 18h06

Fonte: Estado de Minas

 

A indústria mineira entrou no vermelho no acumulado dos últimos 12 meses terminados em janeiro, com uma queda de 0,2% da produção, menor nível já apurado nessa base de comparação desde março de 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi idêntica a taxa verificada para o Brasil nesse indicador que mostra a tendência do desempenho do setor, configurando o processo expressivo de encolhimento da atividade no país. A piora do ritmo de operação das fábricas brasileiras ficou evidente nos dados de janeiro divulgados ontem pelo instituto. Os índices negativos predominaram em todos os parâmetros de comparação - no mês, em relação a janeiro do ano passado e em 12 meses - na nata dos estados mais industrializados: além de Minas, São Paulo e o Rio de Janeiro, que juntos respondem por mais de metade da produção de bens e serviços medida pelo Produto Interno Bruto (PIB).
 


Em Minas, a produção industrial inverteu no período acumulado de fevereiro de 2011 a janeiro último a curva de desempenho, que era positiva, embora descendente, num comportamento semelhante ao do Brasil. Frente a dezembro, a indústria mineira amargou queda de 1,3% e sobre o mesmo mês do ano passado ficou negativa em 2,4%. No Brasil, o IBGE registrou cortes na produção de nove das 14 regiões pesquisadas, ante a performance de dezembro, com destaque para os 13,4% de redução no Pará e 11,5% no Paraná. No Sudeste, a locomotiva paulista se retraiu 1,7% e o Rio de Janeiro exibiu indigestos 5,9% de queda.



Descontados os efeitos sazonais da produção em janeiro, o mau desempenho dos estados mais industrializados, à exceção de Minas, foi afetado pela diminuição de 30,7% do ritmo da indústria automotiva, que concedeu férias coletivas, observou o gerente de coordenação da indústria do IBGE, André Macedo. Outro setor que pesou no mau resultado foi a indústria extrativa mineral, esta sim influenciando em cheio os resultados da indústria mineira, em função da sua importância na estrutura industrial do estado. A extração de minerais diminuiu 16,6% em Minas, ante janeiro de 2011, por conta das chuvas registradas sobretudo na área central do estado.



Diferentemente do Brasil, a indústria de automóveis ajudou a salvar o resultado de Minas de um poço mais fundo, ao crescer 13,9%. O economista Rodrigo Lobo, do IBGE, disse que a principal medida recente adotada pelo governo para reanimar a indústria, depois da divulgação do PIB fraco de 2,7% de aumento no ano passado, a redução da taxa básica de juros (a Selic, que serve de referência para as operações nos bancos e no comércio), requer algum tempo para surtir efeitos. Há analistas que estimam esse prazo entre três e seis meses.



"O governo está tentando reverter a situação, mas a redução dos juros demora a repercutir na indústria", afirmou Lobo. Os juros mais baixos aliviam os custos dos investimentos do setor produtivo e, em tese, tendem a reduzir o custo do dinheiro para o consumidor, estimulando as compras, o que faz girar a engrenagem da produção industrial. Outras medidas para estimular a economia deverão ser anunciadas ainda nesta semana, conforme informou na sexta-feira, em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Ele não deu detalhes sobre os novos instrumentos, apenas afirmou que fazem parte do arsenal ao qual o governo tem recorrido de desoneração tributária das cadeias produtivas e na linha de juros razoáveis para o setor produtivo.

 


O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado Júnior, não se surpreendeu com os números do IBGE, que mostram a mesma tendência dos indicadores da federação mineira. Os dados são clara demonstração, de acordo com o industrial, de que o governo precisa ser mais veloz na tarefa de reanimar a economia. "Talvez a tomada de decisão esteja muito lenta. O principal ponto para a indústria está na necessidade de condições isonômicas para concorrer com os produtos importados no mercado nacional", critica.



A situação torna-se mais urgente, para Machado Júnior, quando até mesmo a diversificada indústria de São Paulo ressente do baque na produção. Em Minas, de acordo com o IBGE, seis setores apresentaram números negativos em janeiro, na comparação com idêntico mês do ano passado. Além da indústria extrativa, os piores resultados foram retratados nas quedas de 26,5% da fabricação de máquinas e equipamentos; de 12,4% na metalurgia básica, que engloba as siderúrgicas, setor de peso na produção mineira; de 16,7% do setor têxtil e de 14,9% de bebidas. Caiu, também, o ritmo das fábricas de inseticidas para uso na agricultura, de adubos e fertilizantes, de celulose e papel e o refino de petróleo.