Emissões de carbono devem baixar até 70% antes de 2050, diz relatório

por André Candreva publicado 26/03/2018 20h56, última modificação 26/03/2018 20h56

Fonte: Jornal O TEMPO

 

 

Painel do clima assume tom otimista ao dizer que, mesmo com a emissão de 1,9 trilhão de gases estufa no planeta, não é impossível evitar que a temperatura ultrapasse 2°C.

 

O painel do clima da ONU adotou um tom mais otimista neste domingo (2) em sua mensagem final antes do próxima rodada de negociações para um acordo global contra a mudança climática: evitar que o planeta ultrapasse um acréscimo de 2ºC, considerado perigoso, será difícil, mas não impossível.

 

O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática) lançou neste domingo seu relatório síntese, no qual resume as conclusões contidas nos documentos que produziu nos últimos doze meses. É o volume final do AR5 (5º relatório de avaliação) do painel.

 

Segundo o documento, se emissões históricas de carbono ficarem em menos de 2,9 trilhões de toneladas de CO2, temos 66% de chance de evitar o aquecimento 2°C. O planeta, porém já emitiu 1,9 trilhão de toneladas.

 

Evitar que o planeta estoure esse "orçamento de carbono" será difícil, mas ainda não impossível. O tom de otimismo do último relatório-síntese destoa um pouco do tom geral dos documentos mais extensos do painel, nos quais o aquecimento de 2ºC só é evitado em um número limitado de cenários.

 

Para frear o aquecimento global antes que esse limite seja cruzado, de modo geral, será preciso que as emissões de CO2 parem de crescer em cinco anos e caiam a até 70% antes de 2050. Em 2100, elas teriam de zerar.

 

"Tudo o que precisamos é a vontade de mudança, a qual esperamos será motivada pelo conhecimento e pela compreensão da ciência da mudança climática", afirmou Rajendra Pachauri, presidente do IPCC, em entrevista coletiva. Cientistas do painel passaram a última semana reunidos a portas fechadas em Copenhague, na Dinamarca, para fechar um acordo sobre a redação final do relatório-síntese.

 

FINANCIAMENTO

 

O investimento em energia limpa para atingir a meta de evitar o aquecimento perigoso, afirma o relatório, é em torno de US$ 350 bilhões por ano. O setor energético já investe US$ 1,2 trilhão por ano, incluindo o o petróleo e o carvão, que deverão perder financiamento, então o acréscimo total não deverá ser tão fora de escala, estima o relatório.

 

O volume gasto em investimentos, além disso, não deve afetar muito a economia. O IPCC leva em conta que o planeta crescerá de 1,6% a 3% por ano em média no século 21. O impacto da substituição de combustíveis fósseis por tecnologias como energia solar e eólica seria de apenas 0,06%, diz o painel, sem considerar os benefícios de um clima mais ameno.

 

"O que está faltando são políticas e instituições apropriadas", diz a Youba Sokona, um dos autores do novo relatório. "Quanto mais esperarmos para tomar uma atitude, mais caras ficam a adaptação e mitigação da mudança climática."

 

Obras de adaptação aos problemas da mudança climática poderão ser feitas, mas têm um potencial limitado de aliviar o problema, diz o IPCC. Mesmo que não se evite o acréscimo de 2°C, cortar o máximo possível de emissões será bom. Obras de adaptação serão mais caras e e danos econômicos serão maiores sob um clima mais descontrolado.

 

O relatório síntese do IPCC ressalta que o aquecimento afeta países ricos e pobres, mas os primeiros têm mais recursos para investir em adaptação. A mudança do clima reduzirá a oferta de água, comida e moradia sobretudo em países em desenvolvimento.

 

O relatório síntese do IPCC é o último documento do painel a ser publicado antes da 20ª cúpula do clima, em dezembro, em Lima (Peru), para negociação de um acordo global de redução de emissões. A expectativa é que algum acordo possa ser assinado na 21ª cúpula, no ano que vem, em Paris.