Desperdício de água é desafio para companhias de saneamento

por André Candreva publicado 27/03/2018 06h13, última modificação 27/03/2018 06h13

Fonte: ALMG

 

A drástica redução no volume de chuvas nos últimos dois anos é motivo de preocupação para ambientalistas e autoridades e pode comprometer o abastecimento de água em Minas Gerais. Mas o desperdício de água nesse cenário de escassez também acende um sinal de alerta e evidência de que o cidadão não é o único responsável pelo mau uso da água: tecnologias obsoletas e falta de investimentos colocam nesse rol empresas públicas e privadas, além do setor agrícola, o maior consumidor de recursos hídricos.

 

Esses e outros problemas serão abordados pelo Seminário Legislativo Águas de Minas III - Os Desafios da Crise Hídrica e a Construção da Sustentabilidade, que terá sua etapa final de 29 de setembro a 2 de outubro na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

 

O Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos, realizado com base em dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), aponta que o índice de perdas de água pelas concessionárias brasileiras ainda é altíssimo. A média nacional registrada em 2013 foi de 37%, praticamente o mesmo de 2012, que foi apenas 0,1% superior. A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) apresentou um índice de 33,8%.

 

Conforme o estudo, apenas três empresas de saneamento registraram, em 2013, indicadores inferiores a 30%: Copanor (MG) 23,4%; Caesb (DF), 27,3%; e Saneago (GO), 28,7%. Outros 13 prestadores de serviço registraram perdas abaixo de 40% e nove superaram 50% de desperdício.

 

Na comparação com outros países, os números são ainda mais alarmantes. Segundo a presidente da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas, no Japão a perda média é de 2% e na Alemanha, 7%. O negócio das empresas era vender a água, então o desperdício não era problema, critica a ambientalista. Na sua avaliação, o consumidor é que acaba pagando pela água que se perde no caminho até a torneira. Mas, com a escassez, o assunto retorna à discussão.

 

A secretária-executiva do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Patrícia Boson, explica que, há mais de dez anos, a instituição vem alertando e compartilhando com as empresas a necessidade de melhorar a gestão hídrica nos processos industriais. Não dá mais para investir apenas na gestão da demanda; é preciso encarar a oferta, adverte a especialista.

 

Na opinião de Boson, é inadmissível nos dias atuais ainda convivermos com tais índices de perdas na distribuição de água pelas concessionárias estaduais. Ela também critica o parque industrial ainda muito obsoleto, que demanda muita água em seus processos. É preciso produzir com menos água, defende.

 

A diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Maria de Fátima Chagas Dias Coelho, admite que é necessário melhorar a gestão para reduzir o desperdício envolvendo empresas e órgãos públicos. É preciso sensibilizar a sociedade para implementar instrumentos que permitam a redução, o reuso e a recirculação da água, afirma.

 

Prejuízo líquido – São duas as formas de perdas na distribuição de água. As perdas aparentes (ou não físicas) referem-se à água consumida pelos usuários, mas não faturada pelas concessionárias. Podem ser ocasionadas por ligações clandestinas (gatos), erros de leitura do prestador de serviço, fraudes ou outras falhas que impedem a medição do consumo.

 

As perdas reais (ou físicas) computam a água desperdiçada no caminho entre a distribuidora e o consumidor. Essas perdas são ocasionadas por vazamentos nas redes, tubulações, conexões ou reservatórios. Por vezes esses vazamentos são ocasionados pelo excesso de pressão da água, mas também são associados à baixa qualidade do material utilizado, idade das tubulações e falhas no monitoramento.

 

Até o fechamento desta matéria, a Copasa não tinha dado resposta às solicitações de entrevistas para se posicionar sobre essa questão.