Desmatamento ameaça cerrado e caatinga em Minas

por André Candreva publicado 27/03/2018 06h05, última modificação 27/03/2018 06h05

Fonte: Estaminas

 

O cerrado, com paus-terra de flores amarelas e jacarandás de cascas escuras, dominava o alto do morro, compondo com a mata ciliar do Rio das Velhas um corredor contínuo de vegetação fechada, onde comunidades próximas convivem com lontras, tatus, seriemas e outros animais. Até 2008, esse fragmento de mata nativa de 108 hectares (ha) permaneceu intacto, resistindo ao avanço das fronteiras agrícolas e da especulação imobiliária na região de Lagoa Santa, na Grande BH. Mas, no ano seguinte, uma clareira de 3,86 ha surgiu sem licença para desmatamento. Dois anos depois, uma plantação de hortaliças foi cultivada na floresta, escondida da fiscalização. É a agonia do cerrado, que se estende também para o Norte de Minas, agravada pela seca e pelo desmatamento.

 

O uso de tratores e motosserras para derrubar árvores sem qualquer incômodo da fiscalização em Lagoa Santa permitiu a expansão da devastação, que engoliu mais 6,34 ha em 2014 e 2,3 ha neste ano, somando, em sete anos, 12,5 ha (11,6% da cobertura florestal total). O ritmo acelerado retrata a realidade da Grande BH, uma das áreas de maior desmatamento em Minas. A derrubada de árvores no estado cresceu 23,4%.

 

A Forest Stewardship Concil do Brasil, organização não-governamental que promove fóruns sobre manejo florestal sustentável e mapeou a destruição florestal no país por meio de estudo publicado neste ano, considera ainda o Jequitinhonha, Noroeste, Norte, Sul, Sudoeste, Triângulo e Vale do Rio Doce regiões de grande desmatamento clandestino.

 

O aumento da devastação também está na mira da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Segundo o monitoramento por satélite da secretaria, no período agrícola 2011/2013, a derrubada de florestas abrangia uma área estimada em 36.450 ha, que saltou para 45 mil ha nos anos 2013/2015. E a razão para o período 2011/2013 ser estimado é a falta de investimentos, considerada parte dos motivos pelos quais a fiscalização não tem impedido a ação dos madeireiros, agricultores e carvoeiros que devastam o cerrado, a mata atlântica e a caatinga.

 

Segundo o gerente de Monitoramento de Vegetação e Biodiversidade do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Waldir Melo, o corte de recursos humanos e financeiros coincidiu com a perda da órbita de um dos satélites que cediam imagens ao departamento, o Land-Sat. Um satélite indiano passou a transmitir esses dados, mas também enfrentou problemas, inclusive meteorológicos.