Comunidade de Itapecerica recupera o altar da Igreja Matriz de São Bento

por André Candreva publicado 26/03/2018 15h26, última modificação 26/03/2018 15h26

Itapecerica – As amigas Gabriela Meneses Ciotto Martins, de 10 anos, e Laura Luíza Brito Diniz, de 9, fizeram a sua parte. Durante vários dias, montaram uma “lojinha” perto de casa e venderam de ímãs de geladeira a objetos de gesso, fruto da doação de moradores. Contabilizadas as negociações, com a mesma disposição, as duas procuraram o monsenhor Pedro Gondim Ferreira, pároco da Igreja Matriz de São Bento, em Itapecerica, no Centro-Oeste de Minas, a quem entregaram o resultado das vendas: R$ 33 em dinheiro bem trocado.

Outra moradora, a aposentada Maria Gomes Carvalho, de 68, também deu a sua contribuição. Ofereceu um lote de 360 metros quadrados de área, que vai ser sorteado no fim do ano, entre pessoas que compraram um carnê e pagam, por mês, R$ 10. É assim, de grão em grão, que a comunidade da histórica cidade consegue restaurar um dos bens maiores do seu patrimônio: o altar da matriz, esculpido no fim do século 19 e de tamanho monumental. Até agora, segundo o pároco, já foram arrecadados R$ 130 mil. É bastante, mas ainda são necessários R$ 245 mil para concluir os trabalhos até o fim do ano.

“A campanha SOS Altar da Matriz movimenta a comunidade e está dando muito certo. Todo mundo quer ajudar e cada um participa como pode”, diz, satisfeita, a coordenadora da Comissão de Bens Culturais da Igreja Matriz de São Bento/Paróquia de São Bento, Miralice Maria Moreira. Um dos esteios do trabalho, segundo ela, está na doação premiada, que vai sortear, além do terreno, máquina de lavar e geladeira. Mas há também festas e barraquinhas para fortalecer o caixa e impedir a paralisação das obras.

O retábulo, com 12 metros de altura e oito de largura, estava em petição de miséria, diz a encarregada da recuperação, a especialista Carla Castro Silva, do Atelier de Restauro, empresa de Belo Horizonte que começou a operação salvação em março. “A policromia e os douramentos, feitos pelo italiano Angelo Pagnaco no fim do século 19 e início do 20, estavam cobertos de repinturas. As madeiras estavam infestadas de cupins de solo e de outros insetos, que formaram galerias e provocaram grandes perdas no suporte, sem contar que estavam apodrecidas pela infiltração de água. Encontramos ainda uma série de intervenções anteriores malfeitas, que tiravam todo o brilho das peças”, explica a restauradora.

Mas o pior mesmo estava na segurança do templo e dos fiéis. Um pedaço de uma das peças de decoração de 2,5m de altura, em policromia e douramentos, instalado no alto do retábulo, se desprendeu e caiu. “Por sorte, não havia ninguém no local na hora”, conta o monsenhor, com alívio. Confiante, ele lembra que a comunidade “não está dando esmolas para conservar o templo”, mas participando de uma campanha para dividir os gastos. “É uma demonstração de consciência, interesse e responsabilidade, pois se trata de um patrimônio religioso, artístico, cultural e histórico. A matriz representa a história de Itapecerica e o jeito do seu povo.”

A restauradora Carla destaca a beleza do altar, as suas dimensões e diz que o conjunto é do estilo eclético, com características do rococó e neoclássico. “Temos aqui um exemplo de cidadania e de preservação”, afirma, referindo-se à campanha para o restauro.

 

Fonte: Estaminas