Comércio de BH perde R$ 24 mi por dia nos jogos do Brasil

por André Candreva publicado 26/03/2018 15h28, última modificação 26/03/2018 15h28

Assim como o coração do torcedor brasileiro, que sofre e se anima toda vez que Seleção Brasileira entra em campo na África do Sul, a economia do país também se sobressalta positiva ou negativamente aos sabores da agenda dos jogos da Seleção. Apesar dos vários gols marcados por setores como fabricantes de eletroeletrônicos, cervejarias e bares e restaurantes, no entanto, no placar geral, há mais perdas do que ganhos, segundo estimativas da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Só na capital mineira, o faturamento do comércio cai R$ 24 milhões nos dias em que os jogos acontecem às 15h30, uma redução média de 50% na receita de um dia normal (R$ 48 milhões).

 

“O que se deixa de produzir quando o país para para assistir os jogos não é compensado pelo aumento da demanda de setores específicos relacionados a alimentos e bebidas, que são os que mais se beneficiam”, avalia o coordenador do Núcleo de Estudo de Esportes da FGV, professor Francisco Barone, que não dispõe de levantamento de qual seria o saldo de perdas e ganhos para a economia brasileira com a Copa.

 

O professor destaca, no entanto, que o comércio e o setor de serviços, forças motoras da economia brasileira, são os mais prejudicados. Ao contrário da indústria, que pode replanejar sua produção e reescalonar pessoal, os dias parados se traduzem em faturamento menor.

 

É o caso da rede hoteleira, que depende do turismo de negócios e da disposição do consumidor para viajar. “Para nós é o fim. Nossa taxa de ocupação está baixíssima. Ninguém marca eventos nos dias de jogos do Brasil. Com isso, os hotéis acabam vazios”, lamenta a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Minas Gerais (ABIH-MG), Silvânia Araújo.

 

Com o torcedor ligado na Copa e na tradicional comemoração entre amigos, os hotéis pouco podem fazer para melhorar as taxas de ocupação. “Ninguém quer ver jogo em quarto de hotel. Todo mundo tem TV em casa e quer é a companhia da família e de amigos”, aponta. Segundo projeções de ABIH-MG, a taxa de ocupação, que em maio foi de 73,78%, deve fechar em pouco mais de 60% em junho.

 

Depois dos jogos do dia 15 e do último domingo, o Brasil ainda vai jogar por duas vezes este mês. Na sexta-feira, a partida será às 15h30, e na segunda ou terça-feira, no mesmo horário. Se a Seleção vencer ou empatar com Portugal na sexta, o próximo jogo será na segunda. Em caso de derrota, na terça-feira. Nas duas hipóteses, serão três dias do mês com produção parcial na indústria e vendas menores no comércio.
Na Fiat, nos dias de jogos, a produção será encerrada às 12 horas e retomada às 20 horas. Com a paralisação, a montadora deixará de produzir 4.500 veículos nos três dias de operação parcial. A média mensal é de 60 mil veículos. A empresa informou, por meio de sua assessoria de comunicação, no entanto, que a redução não implicará em prejuízo, já que produção menor poderá ser compensada nos dias seguintes em função da demanda.

 

De acordo com levantamento da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), o fechamento parcial nos dias de jogos tem reduzido o faturamento nestes dias de R$ 48 milhões para R$ 24 milhões. Mas o prejuízo é menor. “Muitas vendas são antecipadas ou postergadas. A queda mesmo deve ficar em uns 25%, já que parte do dinheiro acaba na mesa do bar”, avalia o presidente da CDL-BH, Roberto Alfeu. Antecipar ou postergar a oferta de serviços tem sido a alternativa da Viação Itapemirim para driblar o impacto negativo dos jogos na disposição do passageiro para embarcar.

 

“Estamos remanejando os horários que coincidem com os jogos para a partir de duas horas após o final da partida. Fazemos um monitoramento constante da oferta e, se for necessário, colocamos mais carros de acordo com a demanda. Foi a forma que encontramos de manter o movimento sem prejuízo”, relata o diretor comercial da Viação Itapemirim, José Valmir Casagrande.

 

Mas também há os que têm muito a comemorar. Segundo estimativas da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG), nos estabelecimentos onde há exibição dos jogos, o movimento chega a ser 150% maior. “Quando o jogo é às 15h30 é que mais faturamos. O pessoal vai direto do trabalho e já emenda com a noite. Neste mês, é como se tivéssemos mais três fins de semana”, afirma o diretor da Abrasel-MG, Lucas Pêgo. Para junho, a projeção é de um faturamento 25% maior do que o mesmo mês do ano passado.

 

E os fabricantes do principal insumo que move os torcedores nos bares também não têm do que reclamar. “Nossa produção neste mês está 12% maior do que em junho de 2009. Temos, em pleno inverno, um crescimento com patamares de verão, quando tradicionalmente expandimos de 12% a 13%”, contabiliza o superintendente do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas-MG), Cristiano Lamêgo.

 

Apesar do ganha-perde dos dias de jogos, o professor de Economia do Ibmec Márcio Antônio Salvato lembra que a Copa começa a movimentar a economia muito antes do início dos jogos. “Há um forte aquecimento do consumo, principalmente de tevês, alimentos e bebidas”, pondera.

 

Fonte: Hoje Em Dia