Coleta aproveita só 10% do potencial reciclável

por André Candreva publicado 26/03/2018 15h52, última modificação 26/03/2018 15h52

Menos de 10% de todo o lixo seco recolhido em Belo Horizonte vai para a coleta seletiva. O resíduo poderia ser totalmente reciclado, o que não ocorre. Os principais motivos são a falta de consciência da população em separar o material e a falta de indústria para o reaproveitamento. Além disso, grande parte do lixo recolhido pelos caminhões do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) acaba no aterro sanitário. Quase 40% de tudo que poderia ser reciclado é descartado. Quando a coleta é feita pelos catadores, o rejeito é menor, no máximo, 8%. Os dados são da Asmare, maior associação de catadores da capital, considerada modelo de inclusão social pela coleta seletiva no país.

 

A explicação para o melhor aproveitamento dos resíduos por parte dos catadores, segundo o coordenador da Asmare, José Aparecido Gonçalves, o Cido, é a relação da população com os catadores. “As pessoas têm mais consciência da importância de separar seu material quando quem coleta é o seu catador e não um veículo da Prefeitura”, avalia. De acordo com informações da SLU o principal gargalo para o aumento do volume de material reciclável é o baixo número de galpões para onde encaminhar o material coletado.

 

O modelo de desenvolvimento social aliado ao ambiental e econômico foi o tema das discussões de ontem na 9ª edição do Festival Lixo e Cidadania, que começou na segunda-feira e vai até sábado. O Festival acontece na Serraria Souza Pinto e no Centro Mineiro de Referência em Resíduos, no Bairro Esplanada, região Leste de BH.
A capacidade na capital está perto de seu limite. Desde meados de 2000 a PBH tem em seus planos ampliar a coleta seletiva porta a porta. A iniciativa chegou a ser divulgada como prioridade do então prefeito Fernando Pimentel, mas avançou pouco.

 

Para tentar aumentar o potencial de reciclagem na cidade a prefeitura inaugurou ontem mais um galpão de catadores, no Bairro Granja de Freitas, Região Leste. Com uma área de aproximadamente 1.500 metros quadrados, o novo espaço tem capacidade para beneficiar até 8 mil quilos de material reciclável por dia. Para viabilizar o processo, o local foi equipado com um guindaste giratório, duas balanças digitais, duas prensas hidráulicas, um fragmentador de papel, um triturador de vidros, quatro carrinhos para fardos e uma balança rodoviária.

 

Primeiro galpão projetado pela SLU para triagem

 

Além dos equipamentos para trabalho, os catadores vão poder contar com vestiários, bebedouros e aquecedores de marmitas como infraestrutura do novo galpão. O Granja de Freitas é o primeiro galpão em Belo Horizonte projetado pela SLU para triagem de materiais recicláveis.

 

A inauguração do galpão pegou carona no Festival Lixo e Cidadania. “É muito interessante perceber que outras esferas, como a prefeitura e as empresas, estão se apropriando, à sua própria maneira, da semana do festival. O assunto virou pauta das ações”, comemorou Cido.

 

Ainda segundo ele, a Asmare possui atualmente 250 catadores. As oito outras associações de B elo Horizonte possuem, juntas, cerca de 240. Juntos, os catadores coletam cerca de 2 mil toneladas por mês de vidro, papel e papelão. A latinha, garantem os catadores, é cada vez mais rara de se encontrar.

 

De acordo com uma pesquisa realizada neste ano pelo Compromisso Empresarial pela Reciclagem (Cempre), 85% de toda a matéria-prima utilizada pela indústria de reciclagem do país é retirada do lixo pelos catadores. “É uma atividade que resgata a cidadania, gera renda para famílias que estavam à deriva, integra estas pessoas novamente à sociedade, reduz a violência urbana, o tráfico de entorpecentes, a agressão a crianças e mulheres, e ainda contribui para o ambiente economizando dinheiro público. Ou seja, ganha todo mundo”, avalia Cido.

 

Durante a semana, uma missão francesa participa do evento para aprender como funciona o modelo de mobilização social em torno da coleta seletiva. Técnicas de arte usando materiais descartados também estão sendo aprendidas. Uma comissão de Belo Horizonte participará de um festival similar em Paris, em maio de 2011.

 

Fonte: Hoje em Dia