Chuva, calor e novo alerta contra a dengue em BH

por André Candreva publicado 26/03/2018 17h25, última modificação 26/03/2018 17h25

Fonte: Estado de Minas

 

As chuvas e temperaturas elevadas voltam a dar condições ideais para a proliferação do mosquito da dengue e põem Belo Horizonte em alerta. Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAA), divulgado ontem pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), registrou presença do inseto transmissor da doença em 3,1% dos imóveis pesquisados na capital em janeiro. Embora o índice seja inferior ao do mesmo período do ano passado (3,8%), é mais de três vezes maior que o padronizado pelo Ministério da Saúde para evitar epidemia – de 1%. Ao anunciar o resultado, a Secretaria de Saúde também apresentou um plano de contingência. Somente este ano, foram notificados 948 casos da doença, dos quais 35 foram confirmados.

 

“Não podemos nos descuidar”, avisou o secretário de Saúde de BH, Marcelo Gouvêa Teixeira. “Este é o período mais favorável para a reprodução do Aedes, com pancadas de chuva e muito calor. Meio milímetro de lâmina d’água já é suficiente para que o mosquito se reproduza”, acrescentou. Nas três primeiras semanas de janeiro, 1,5 mil agentes de combate a endemias percorreram 34.320 imóveis nas nove regionais de BH. Dos 489 bairros visitados, somente 42 estão na faixa considerada de baixo risco. Outros 315 (64,4%) estão no nível médio e 132 (27%) se enquadram no alto risco.

 

A situação é pior na Região Leste, sobretudo nos bairros Pompeia, Esplanada, Vila Nossa Senhora do Rosário e Vila São Rafael. Nesses locais, o índice de infestação chega a 7,99%, percentual considerado altíssimo. Em toda a Região Leste, o índice é de 4,4%. Em seguida, está a Região da Pampulha (4,2%), Nordeste (3,8%) e Noroeste (3,8%).  “O resultado é preocupante, bastante elevado em alguns bairros”, diz a médica infectologista Regina Lunardi. “E sabemos que pode piorar porque depois das chuvas muita água fica empoçada. A mortalidade da dengue não é elevada, mas é uma doença que afeta clinicamente as pessoas e compromete o bem-estar delas”, completa. A Região Centro-Sul registrou o menor índice de infestação: 1,7%.

 

A transmissão da dengue é influenciada pela ocorrência de chuva e temperaturas elevadas e, por essa razão, a Secretaria de Saúde admite que espera um aumento do número de casos da doença até o fim de maio. Das 948 notificações em BH em janeiro, 522 ainda estão pendentes. Houve maior número de registros nas regiões Norte (169), Leste (152) e Venda Nova (125). Na Região do Barreiro, seis casos foram confirmados. Venda Nova, Norte e Oeste e registraram cinco casos cada.

 

A professora do Departamento de Microbiologia da UFMG Erna Kroon alerta que a guerra à dengue é difícil de ser vencida e cobra iniciativas por parte de moradores e da prefeitura. “O poder público tem de manter ambientes públicos limpos, fiscalizar os privados e educar”, afirma. A especialista lembra que uma tampa de refrigerante pode ter mais de 200 larvas do mosquito da dengue. Por isso, diz ela, é preciso cuidado redobrado com latas, garrafas, vasos e jarros de plantas, barris e tambores – que concentraram 58% dos focos de infestação da doença identificados em janeiro pelo LIRAA.

 

O secretário de Saúde de BH informou que o chamado plano de contingência assistencial inclui um programa de capacitação e ativação progressiva de leitos para internação, além de novos serviços para atendimento à população. Estão previstas quatro fases, que serão implantadas conforme a demanda. “A secretaria executa durante todo o ano ações de prevenção e controle da dengue. Há assistência aos pacientes, combate ao vetor, mutirões de limpeza e mobilização social”, disse Marcelo Teixeira. No ano passado, por exemplo, foram feitos 193 mutirões, nos quais foram recolhidas 1.823 toneladas de lixo e 4.507 pneus.

 

A secretaria destacou ainda, como ação de prevenção, a entrada forçada em imóveis fechados em que os agentes de combate a endemias (ACEs) não conseguem acesso. Nesse caso, o proprietário recebe multa de R$ 7.251. A prefeitura também faz a limpeza de lotes vagos que representam risco de desenvolverem criadouros do mosquito. Para isso, a multa é de R$ 908,28. “As pessoas conhecem os cuidados. Transformar informação em atitude é o maior desafio que a gente tem”, reconheceu Teixeira.