Bróder ganha prêmio de melhor filme em Gramado

por André Candreva publicado 26/03/2018 15h51, última modificação 26/03/2018 15h51

GRAMADO (RS) – Favela movie? A definição pode soar um pouco pejorativa, mas o fato é que o gênero consagrado por Fernando Meirelles em “Cidade de Deus” reaparece com força em 2010, após já darem como certo o fim deste ciclo no cinema brasileiro. E a maior prova disso está na premiação de “Bróder” na 38ª edição do Festival de Cinema de Gramado, encerrada na noite de sábado (14) na fria cidade da serra gaúcha.

 

Dirigido pelo estreante em longas Jeferson De, “Bróder” levou os Kikitos de melhor filme, direção, ator, montagem e trilha musical, confirmando as expectativas que o apontavam como grande favorito. A frase do ator Caio Blat, ao subir ao palco do Palácio dos Festivais para receber sua estatueta, é bem sintomática deste momento da produção nacional: “Agora eu posso encher a boca para dizer: eu também sou negão!”, comemorou.

 

Macu, seu personagem em “Bróder”, é integrante de uma família interracial que mora em Capão Redondo, periferia de São Paulo. A maneira como o preconceito é abordado revela um outro tipo de olhar em torno desta questão, baseado fundamentalmente no afeto e na compreensão de uma divisão social imposta historicamente. Algo que “5 x Favela, Agora por Nós Mesmos”, premiado no Festival de Paulínia, no mês passado, também abraçou.

 

Curiosamente, “Bróder” estava entre os concorrentes de Paulínia, ganhando apenas o troféu de direção, embora muita gente tivesse apostado que levasse o prêmio principal. Mas acabou recebendo uma segunda chance, entrando de última hora na competição de Gramado, após ter sido divulgado que participaria do festival como hours concours. Exibido no primeiro dia, “Bróder” não encontrou concorrente à altura, dentro de uma seleção bem abaixo da média.

 

Quando “Não se Pode Viver Sem Amor”, de Jorge Durán, começou a cerimônia faturando diversos Kikitos – roteiro, fotografia e atriz (Simone Spoladore), chegou-se a temer que “Bróder” sairia mais uma vez derrotado. O júri oficial, formado, entre outros, pelos mineiros Kiko Goifman (diretor) e Mateus Araújo (professor e pesquisador), foi justo e coerente, abandonando uma prática comum de dividir a premiação para vários filmes.

 

“Ponto Org”, dirigido pela mineira Patrícia Moran, não teve boa recepção em Gramado e ficou com o troféu de melhor trilha musical, juntamente com “Bróder”. O documentário “O Último Romance de Balzac”, de Geraldo Sarno, levou o prêmio especial do júri e o Kikito de direção de arte. “Diário de uma Busca”, de Flavia Castro, foi eleito o melhor filme de um júri formado por nove críticos de cinema, incluindo o HOJE EM DIA.

 

Na categoria de longas estrangeiros, mais equilibrada que a mostra nacional, o grande vencedor foi o documentário chileno “Mi Vida com Carlos”, de German Berger. A estatueta de direção foi para o argentino Pablo Meza (“La Vieja de Atras”). Alma Blanco ficou muito emocionada ao receber o prêmio de atriz por “La Yuma”, primeira produção nicaraguense realizada em 20 anos. Gabino Rodriguez (“Perpetuum Mobile”, do México) e Martin Piroyansky (“La Vieja de Atras”) dividiram o Kikito de ator.

 

Na escolha do melhor curta-metragem, outra divisão, com o troféu ficando com o paranaense “Haruo Ohara”, de Rodrigo Grota, e o baiano “Carreto”, de Claudio Marques e Marilia Hughes. No júri popular, que teve entre seus integrantes Júlio César Sales, leitor do HOJE EM DIA que venceu a promoção “Você em Gramado”, os ganhadores foram “180º” (longa brasileiro), “Mi Vida con Carlos” (longa estrangeiro) e “Ratão” (curta).

 

Fonte: Hoje em Dia