Belo-horizontinos jogam R$ 8 milhões no lixo todos os dias

por André Candreva publicado 26/03/2018 17h30, última modificação 26/03/2018 17h30

Fonte: Estado de Minas

 

A limpeza de bota-fora irregulares joga no lixo, literalmente, R$ 8 milhões por ano em Belo Horizonte. Somente em 2011, mais de 119 mil toneladas de rejeitos foram tirados de 700 “lixões” urbanos identificados pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). Os amontoados de entulho são resultado da falta de educação ambiental da população e da fiscalização precária da prefeitura.


 

Sobras de construção civil, equipamentos eletrônicos, pneus e lixo orgânico, na maioria das situações, são deixados, na calada da noite, em terrenos vazios ou sobre passeios por carroceiros e caminhões. Em pouco tempo, mais resíduos, de todos os tipos, são abandonados no local. Com isso, o caso passa a ser também de
saúde pública, pois a sujeira é um convite para ratos, mosquitos e outros vetores de doenças.


 
 
De acordo com a SLU, um estudo feito no ano passado revelou que os bota-fora se concentram principalmente na região Centro-Sul da capital, seguida pela Leste e Noroeste. No entanto, em toda a cidade é fácil identificar os “lixões” urbanos.

 

 
Eles “nascem”, em geral, onde já há placas proibindo o despejo, conforme a Lei Municipal 2.968/78 e o Código de Posturas, que preveem advertências e até multas para os “sujões”. A prática também é considerada crime ambiental desde 1998.


 

Para a conselheira da seção mineira do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Cláudia Pires, contribui para o problema a distância dos aterros sanitários, localizados em cidades vizinhas a Belo Horizonte. Segundo ela, algumas das firmas contratadas para dar fim a resíduos acabam deixando as sobras pelas ruas para economizar. A urbanista defende que a prefeitura de BH feche o cerco aos infratores e invista em campanhas educativas.


 
 
“Uma saída é transformar moradores das regiões mais problemáticas em ‘vigilantes’, que poderão acionar a fiscalização e ajudar a coibir as irregularidades. Líderes comunitários também podem ser aliados”, sugere.


 
 
Opinião semelhante tem a coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da UNI-BH, Maísa Gonçalves de Carvalho. Para ela, a responsabilidade pela situação é compartilhada entre o poder público e a população. 
 


 
Maísa diz que campanhas de conscientização não são suficientes para mudar o péssimo hábito de quem suja vias urbanas. “O governo tem que intensificar a fiscalização e o povo deve parar de ser conivente e passar a denunciar”.


 
 
O desrespeito à legislação e à cidade não poupa nem mesmo ruas movimentadas ou grandes avenidas. Na Silviano Brandão, uma das principais vias do bairro Horto, na região Leste de BH, há pelo menos três bota-fora clandestinos. Na esquina com a rua João Alfredo, o canteiro central virou área de descarte de materiais. Restos de comida provocam mau cheiro e causam incômodo a quem vive ou trabalha por perto. 


 
 
Moradores contam que o problema existe há seis anos. Para o artesão Carlon Alexandre da Silva, de 48 anos, a prefeitura faz a parte dela, retirando periodicamente o lixo. Ele diz que foram feitas campanhas educativas, mas que o comportamento dos poluidores não mudou.


 
 
Até quem tira o sustento do lixo não se conforma com a sujeira. Motorista de caminhão de uma empresa contratada pela prefeitura para retirar os entulhos em bairros da região Leste, João Gabriel Frade, de 67 anos, lamenta a formação constante dos amontoados.

 

 
Nesta quarta-feira (15) pela manhã, ele repetia a tarefa que faz três vezes por semana. Em apenas  1h30 de trabalho, o caminhão já estava com o baú lotado. “É um absurdo”, diz. Para fazer a rota completa, João tem que ir ao aterro sanitário de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, pelo menos duas vezes, só para descarregar.


 
 
Perto dali, outros dois bota-fora são “abastecidos” diariamente por carroceiros e catadores. Um deles fica na esquina com a rua Felipe Camarão, onde há uma placa da prefeitura proibindo o descarte de lixo. No entanto, pedaços de uma televisão, uma mala e restos de comida se misturavam, nesta quarta-feira (15), com outros objetos destruídos por um incêndio. 


 
 
A carroceira Maria Roberta da Silva, de 42 anos, diz que é comum a categoria despejar a carga em qualquer ponto. “As pessoas contratam os carroceiros achando que o material vai para o lugar certo. Mas quando ninguém está vendo, eles deixam em qualquer canto”.

 


A cena se repete na avenida Américo Vespúcio, próximo ao cemitério da Paz, na esquina das ruas Senhora da Conceição com Itapetinga, no bairro São Francisco, e também no cruzamento da avenida Cristiano Machado com rua Angola, no bairro São Paulo (Nordeste). Curiosamente, a menos de 100 metros do último local está uma das 31 Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPVs) de BH