Arquitetura eclética da capital incorpora estilo europeu

por André Candreva publicado 26/03/2018 16h12, última modificação 26/03/2018 16h12

Um dos destaques da tão rica Belo Horizonte é a sua arquitetura. Nascida sob a égide republicana, a nova capitalo se eleva aos pés da Serra do Curral com traços que seguem as tendências europeias da época. A própria distribuição espacial das ruas e edifícios é planejada com a intenção de ordenar.

Assim como no projeto urbanístico, uma nova concepção de arquitetura também é proposta para a cidade. No desejo de promover a ruptura não só com as ideias, mas com tudo que é antigo, a elite política define os estilos para a paisagem da nova capital. Bem diferente do cenário barroco e colonial de Ouro Preto, Belo Horizonte é a promessa do moderno.

Para tanto, o Governo dá início às construções das casas de seus funcionários e edifícios públicos. São construções cujos projetos se caracterizam por uma mistura de diversos estilos arquitetônicos do Velho Mundo, com especial apreço pela influência do neoclássico.

Segundo o diretor da Escola de Arquitetura da UFMG, Flávio Carsalade, a adoção desse modelo não é aleatória. “O neoclássico, na época, é um estilo muito ligado à ideia de república. Isso porque ele remonta o clássico e suas origens grega e romana, culturas que viveram a democracia e a república. Esses são justamente os valores em evidência no momento”, ressalta o arquiteto.

Deste modo, os prédios oficiais se espelharam no neoclássico para se contrapor à antiga capital do Estado. Os símbolos e iconografias, muito presentes nas antigas edificações, ligam-se às disposições do pensamento emergente. Exemplo disto é o coroamento do Palácio da Liberdade, que possui um ícone retratando uma águia como simbolismo típico do positivismo e da República.

No estilo neoclássico que predomina em Belo Horizonte, com linhas claramente influenciadas pela vertente francesa, há uma maior ornamentação com traços figurativos, muitas vezes remetendo à natureza e trazendo a representação de folhas e flores. Tem-se também outros elementos como a divisão das fachadas e as colunas trabalhadas. Quanto ao paisagismo, há no início do século XX duas tendências na cidade. Uma possui inspiração inglesa, que imita os contornos da natureza com uma linguagem mais solta e tem como exemplo o Parque Municipal.

A outra adquire contornos franceses com a natureza disposta de forma ordenada. A Praça da Liberdade, apesar de ter adotado primeiramente o estilo tipicamente inglês, amparando, inclusive, uma réplica do Pico do Itacolomi, seria totalmente remodelada quando os reis da Bélgica visitaram a cidade, na década de 1920. Com as obras, o paisagismo da praça incorpora em definitivo o desenho francês.

Entretanto, o ecletismo na cidade planejada também iria apresentar outras linhas estilísticas. A arquitetura neogótica, por exemplo, vai encontrar espaço nos templos religiosos. O uso de vitrais, arcos e uma estrutura que privilegia os traços verticais seguem as características principais de algumas igrejas da Europa.

Após o ecletismo, a vez do “art déco”

Carsalade registra que o ecletismo não fica restrito somente às construções de templos religiosos. Uma exceção é o prédio do Conselho Deliberativo da nova capital, onde hoje está instalado o Centro de Cultura de Belo Horizonte. Construído para ser um prédio público civil, adota uma linguagem neogótica.

Em um período posterior ao ecletismo, surge na capital uma tendência à adoção do “art déco”. Carsalade explica que esta é uma concepção arquitetônica que destoa do neoclássico. “O déco é uma ruptura porque ele é uma manifestação pré-moderna, que tende a traços mais geométricos com menos ornamentação. Há um resgate de símbolos nacionais, especialmente aqueles ligados às tribos indígenas, que é uma celebração do nacionalismo”, pontua Flávio Carsalade.

O “art déco” chega à capital a partir da década de 1930 para dividir espaço com os estilos já consolidados e reforça a característica plural de BH. Essa nova configuração é, em grande parte, obra de Raffaello Berti e Luiz Signorelli, arquitetos responsáveis por edifícios de traços mais modernos, como a Prefeitura, o Minas Tênis Clube e a Santa Casa de Misericórdia.

Fonte: Hoje em Dia