ALMG faz um convite ao resgate da memória da democracia

por André Candreva publicado 26/03/2018 21h32, última modificação 26/03/2018 21h32

Fonte: ALMG

 

Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão. O poema Memória, de Carlos Drummond de Andrade, dá a dimensão da importância da preservação da memória, seja ela das pessoas ou das instituições. Pensando nisso, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), uma instituição centenária, realiza, a partir da próxima segunda-feira (15/6/15), a Semana Fotos e Memórias, com duas atividades que buscam fomentar o resgate, a preservação e a divulgação da memória do Legislativo.

 

E memórias são o que não faltam à Assembleia de Minas. Basta dizer que a história do Legislativo mineiro começou ainda durante o Brasil Imperial, em 1835, com a instalação, em Minas Gerais, da Assembleia Legislativa Provincial, sediada em Ouro Preto, então capital do Estado, que se reunia no atual prédio da Escola de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Boa parte dessa história está sendo preservada por meio de iniciativas como o Memorial da Assembleia de Minas, um museu aberto à visitação pública no Palácio da Inconfidência, sede da ALMG. Aliás, o imóvel, sua arquitetura, mobiliário e principais peças de arte também são bens tombados como patrimônio histórico do povo mineiro.

 

Mas há uma parcela da história da Assembleia que precisa ser contada. E, embora esteja sendo aos poucos resgatada, ainda depende da mobilização dos próprios cidadãos para vir à luz. Trata-se do acervo de fotos antigas da Assembleia, que reúne aproximadamente 135 mil imagens, a maioria delas ainda sem a completa identificação. A Semana Fotos e Memórias é portanto parte de um esforço da Assembleia de Minas para preencher essas lacunas. As primeiras vitórias têm sido conseguidas com a Campanha de Identificação de Fotos que vem sendo desenvolvida por meio de um grupo fechado no Facebook.

 

A abertura da Semana Fotos e Memórias será às 16 horas desta segunda (15), com o Café com Memórias, uma roda de conversas sobre fatos importantes ocorridos no Legislativo e registrados nessas fotos. O café será realizado no Espaço Democrático José Aparecido de Oliveira, com a presença do presidente da ALMG, deputado Adalclever Lopes (PMDB). A Semana Fotos e Memórias continua, a partir da terça-feira (16), com a Exposição de Identificação de Fotos, que ficará instalada no Hall Administrativo da Assembleia, até sexta-feira (19) e poderá ser visitada das 8h30 às 18h30. Os visitantes poderão visualizar as imagens impressas e ajudar na identificação das pessoas e das situações fotografadas.

 

Imagens históricas em busca de palavras que as expliquem

 

O Café com Memórias será mediado pelo jornalista Manoel Marcos Guimarães, ex-servidor da Assembleia de Minas, com a participação da historiadora Valentina Gomes Somarriba, servidora da Gerência de Memória Institucional da ALMG. Ambos são membros do grupo Fotos Históricas da Assembleia de Minas, do Facebook, e abordarão o contexto e os bastidores de algumas fotos já identificadas. Também participarão do bate-papo os servidores Caio Borelli e Jorge Caixeta, antigos funcionários que acompanharam fatos e bastidores da Assembleia de Minas enquanto, literalmente, a história estava sendo escrita.

 

Segundo Manoel Guimarães, tanto esse bate-papo com a presença do presidente da ALMG quanto a exposição de fotos serão um convite a todos que gostam, se dedicam ou estudam a política, para ajudar no trabalho de identificação das fotos antigas. No jornalismo temos uma expressão famosa que diz que uma imagem vale mais do que mil palavras. Mas isso nem sempre resolve tudo. Nós também precisamos de palavras para explicar as imagens, as fotografias. Por isso, a Assembleia está tentando identificar todas as fotos que possui em seu acervo, que são muitas, afirmou.

 

Estou fazendo um backup da minha vida, compara Caio Borelli, servidor da Gerência-Geral de Consultoria Temática da ALMG, ao falar da oportunidade de ajudar na identificação das fotos. Nelas, ele pode se lembrar um pouco dos 36 anos de trabalho em várias áreas da Assembleia. Nesse trabalho tem, inclusive, até reencontrado antigos amigos e colegas. Segundo ele, o mais empolgante é que há uma história a ser contada por trás de cada uma das mais das milhares de fotos do acervo sem identificação.

 

Uma das fotos mais marcantes para o consultor reúne Ulysses Guimarães, Antônio Carlos Magalhães e Pimenta da Veiga, durante uma entrevista na Sala de Imprensa da ALMG. A presença de Ulysses e ACM juntos pressupõe a aliança para a eleição de Tancredo Neves à presidência, mediante esforço conjunto do PMDB e do PFL, dissidentes do PDS, comenta Caio Borelli. Alguns repórteres presentes na Sala de Imprensa também foram identificados.

 

Já para Jorge Caixeta, que trabalha na liderança da Minoria, a atividade de identificar as fotos antigas funciona como uma interface entre passado e presente. O que podemos apreender disso?, questiona.

 

Alguns registros remontam à década de 1940

 

O acervo de fotos antigas da Assembleia traz diferentes personagens, principalmente políticos e ex-servidores, em épocas e eventos distintos. São negativos de celuloide e de vidro, slides, provas e fotos em papel. Há indícios de que a maior parte tenha sido produzida entre os anos de 1975 e 1999, mas há alguns registros que remontam ainda à 1ª Legislatura, na década de 1940.

 

Esse material permaneceu, por muito tempo, no antigo laboratório de fotografia da ALMG, mas, em 2010, foi transferido para a Gerência-Geral de Documentação e Informação (GDI), setor responsável, entre outras funções, por coordenar as ações de gestão de informações e documentos para fins institucionais. Desde então, o setor vem trabalhando para organizar e armazenar os documentos em condições adequadas. O problema é que, em muitos casos, as fotos não trazem a identificação das situações ou das pessoas fotografadas.

 

Essas imagens contam uma parte da história da Casa, pois certamente são registros de reuniões e eventos dos quais participaram deputados e outras personalidades políticas, além de autoridades e servidores, ressalta Nilson Vidal Prata, gerente-geral da GDI. Esse cuidado com a história de nosso Estado também está presente em outras ações recentes da Assembleia de Minas, por exemplo, como a restauração e transposição do painel da artista plástica Yara Tupinambá para a Galeria de Arte, além de diversas publicações e exposições da Casa.

 

Segundo Fátima Camarota, da Gerência de Memória Institucional, setor responsável por checar as dúvidas quanto à identificação dos personagens nas fotos antigas, a preservação desse patrimônio também é importante para atendimento a pesquisas internas e externas. E na Exposição de Identificação de Fotos, que começa na terça (16), algumas fotos inéditas até o momento, que não foram sequer compartilhadas pelo Facebook, serão exibidas.

 

Apesar de por enquanto ser um grupo fechado, a participação de servidores da ativa e aposentados, deputados, ex-deputados, jornalistas e servidores da Casa de um modo geral tem nos surpreendido. O mais importante é que, além de identificar as fotos, estão sendo contextualizados os registros históricos que essas imagens representam, afirma Fátima Camarota.

 

Digitalização - Na prática, a exposição é a primeira iniciativa externa para tentar identificar essas fotos, que podem dar origem a outras com o mesmo objetivo. As imagens antigas serão digitalizadas e passarão a fazer parte do banco público de fotografias, disponível para download na Sala de Imprensa do Portal da ALMG.

 

O serviço já reúne quase 200 mil fotos, composto atualmente sobretudo com o registro fotojornalístico do dia a dia do processo legislativo nos últimos anos. Com isso, passado e presente vão se unir, garantindo que as futuras gerações também possam reviver a história e manter vivas as tradições democráticas do povo mineiro.