Adolescentes brasileiras não se sentem seguras na web

por André Candreva publicado 26/03/2018 16h10, última modificação 26/03/2018 16h10

A geração de meninas brasileiras que nasceu e cresceu com a internet não confia na rede. Paradoxo revelado na semana passada com a divulgação de estudo inédito encomendado pela Organização Não Governamental Plan Brasil. Quase 80% das 400 adolescentes entrevistadas, que tinham idades entre 13 e 17 anos, afirmaram que se sentem inseguras quando estão on line e apenas um terço disse saber como denunciar uma situação de perigo na web.

A pesquisa faz parte da “Fronteiras Digitais e Urbanas: Meninas em um mundo de transformação”, publicação internacional da Plan e foi realizada em conjunto com a Parceria para a Proteção da Criança e do Adolescente (CPP Brasil). Adolescentes de vários estados e classes sociais foram ouvidas entre janeiro e abril deste ano. O objetivo era mapear com elas lidam com a internet.

De acordo com o gerente do CPP e responsável pela pesquisa, Luiz Rossi, 60% das garotas disseram estar cientes dos perigos on line, mas apenas 33% sabem como relatar quando estão sendo ameaçadas e cerca de 50% afirmaram que os pais não sabem o conteúdo que elas acessam.


Realidade avaliada como preocupante pela entidade, uma vez que o fato dessas meninas não saberem como reportar possíveis riscos virtuais indica falta de diálogo em casa, na escola e até entre amigos. “As adolescentes podem sofrer ameaças e ficar caladas. Talvez, por isso afirmem se sentir inseguras”, cogita Rossi.


Outro sinal de alerta emitido pela pesquisa foi 50% das entrevistadas afirmarem que gostariam de se encontrar com alguém que conheceram na rede e com quem ainda mantêm contato virtual. Especialistas no assunto indicam que quando os encontros se concretizam aumenta a chance de crimes.

Quem faz parte dessa estatística é a estudante Amanda Alves, de 15 anos, que há cerca de um ano mantém amizade via Orkut com um jovem do Rio de Janeiro. Ela admite que só não foi ao estado carioca conhecê-lo porque o garoto achou que não seria conveniente. “Conversamos durante meses e conhecia, inclusive, alguns amigos e familiares dele. Fiquei triste quando ele não quis marcar o encontro, mas já passou e não ligo mais”, relembra.

Mesmo sem vivenciar situações deperigo, Amanda garante que, hoje, não aceitaria novamente desconhecidos como amigos em redes sociais, ou que, pelo menos, investigaria as informações passadas pelo solicitante.

A adolescente acha que os pais a orientam corretamente, conta que não gostam que ela navegue até tarde da noite e semprem a alertam sobre os riscos de conhecer um amigo virtual. “Minha mãe sabe de toda a história (do amigo carioca), mas não aprovava minha a ideia de ir conhecê-lo”, garante. Estudo inédito revela que apenas um terço sabe como e onde pedir socorro no caso de ameaças on line

Advogada lembra que o pai pode responder por atos do filho na rede

Pais, escolas e adolescentes devem saber que o diálogo é a peça chave de relacionamentos seguros na internet. De acordo com Luiz Rossi, na fase da adolescência é difícil controlar o impulso dos jovens por aumentar o ciclo de amizades e também a auto-estima, pois para a maioria cada novo contato na rede de amigos é sinal de status. “Melhor do que privá-los dessa experiência, é estimular o diálogo para que se sintam à vontade para contar o que vivenciam na internet, perguntar ou procurar ajuda caso percebam algum perigo”, ensina Rossi.

Aos pais que evitam questionar os filhos sobre o que fazem na internet ou até bisbilhotarem suas páginas nos sites de relacionamento, a advogada especialista em Direito Digital Patrícia Peck Pinheiro recomenda: “Não se sintam constrangidos de sentar ao lado do filho enquanto navega e perguntar quem são os amigos de Orkut, Facebook e Twitter, além de pedir que revelem as comunidades das quais fazem parte.”

Peck afirma que somente com essas informações os pais poderão tração um perfil do comportamento do próprio filho na internet. Um desenho que dependerá dos dados colhidos em um verdadeiro raio-x, como observar o que mostram as fotos que ele coloca, o teor dos recados recebidos e enviados, entre outras atitudes

“Muitos pais acham que isso é invasão de privacidade, mas esse monitoramento se tornou tão importante quanto saber quem são os amigos dos filhos na vida real, onde moram, os lugares que frequentam, etc”, defende a advogada.

Receita que não é respaldada só pela necessidade de garantir a integridade física e psicológica dos filhos, mas também pelos aspectos legais. “Os pais também são responsáveis pelo comportamento dos filhos no mundo virtual, por isso devem saber o que eles fazem na rede. Se adotam práticas ilícitas, os pais vão responder judicialmente”, alerta.

Fonte: Hoje em Dia.