A onda de calor que castiga Minas vai além de fenômenos da natureza

por André Candreva publicado 26/03/2018 17h37, última modificação 26/03/2018 17h37

Fonte: Estado de Minas

 

O forte calor que atinge Minas não é consequência apenas dos grandes fenômenos meteorológicos. A mão do homem também escreve essa história com o crescimento desordenado das cidades. Uma das conclusões da pesquisa de doutorado do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é que o aumento da temperatura média da capital ao longo do último século está diretamente relacionado à verticalização da metrópole, urbanização, adensamento de prédios, retirada de vegetação, impermeabilização do solo, canalização de cursos d’água e uso de material com alta capacidade de absorção de energia na construção civil. A soma desses fatores tem como resultado a formação de ilhas de calor na capital.
 

De acordo com o responsável pelo estudo, Wellington Lopes Assis, professor-adjunto do Departamento de Geografia da UFMG, a principal variação nos termômetros de Belo Horizonte no período de 1911 a 2009 foi na temperatura mínima. Esse indicador passou de 15,2 para 17,9 graus. Segundo o especialista, a alteração está diretamente relacionada à mudança no uso do solo. “A temperatura mínima, que é o menor registro num período, é extremamente sensível a qualquer tipo de interferência. Nesse contexto, a urbanização e a industrialização são determinantes. A concentração de asfalto, concreto e cimento, associada à retirada de árvores e impermeabilização do solo, faz com que a energia da radiação do sol seja liberada de forma lenta nas cidades, mantendo a temperatura elevada por mais tempo”, explica Wellington.



Outro problema apontado pelo geógrafo é a canalização dos rios e córregos. Segundo Wellington, a evaporação da água favorece o processo de resfriamento da atmosfera. “O resultado da retirada da vegetação, da impermeabilização do solo e da canalização dos cursos d’água em função da urbanização é a redução da umidade relativa do ar”, diz. Na pesquisa, foi constatada queda de 7% na umidade média de Belo Horizonte, que caiu de 73,2% para 66,2% de 1911 a 2009.



As altas temperaturas desse verão também são explicadas pelo fenômeno La Niña. Caracterizado pelo resfriamento das águas do Pacífico nos litorais do Peru e Equador, ele determina a tendência de manutenção das condições mais secas na atmosfera, com pouca nebulosidade. “A variação das temperaturas máximas está associada a sistemas atmosféricos de grande escala. Hoje, atua sobre Minas um massa de ar muita seca. Com poucas nuvens, a energia chega de forma mais intensa ao solo, aquecendo o ar em contato com essa superfície. Também há variáveis naturais, como o La Niña que, com o resfriamento das águas do Pacifico Sul, repercute nas condições atmosféricas de outros locais”, conclui Wellington.

 

 

A cidade de São Paulo também registrou o recorde de temperatura em um mês de março. Nessa quinta-feira, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os termômetros atingiram 34,3°C na capital paulista. De acordo com o Inmet, nunca foi registrada uma temperatura tão alta no mês de março desde o início das observações feitas pelo órgão, em 1943.