A energia nuclear presente no dia a dia de todos

por André Candreva publicado 26/03/2018 15h54, última modificação 26/03/2018 15h54

Ao contrário do que muita gente pensa, a energia nuclear não serve apenas para produzir bombas atômicas. Essa tecnologia está mais presente em nossas vidas do que imaginamos e suas aplicações podem ser conferidas em uma exposição didática que se encerra hoje, na sede do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) em Minas, localizada no Campus da UFMG da Pampulha. Além da mostra de protótipos de reatores, incluindo uma maquete do submarino nuclear brasileiro, os visitantes podem participar de palestras e visitar os laboratórios do CDTN.

Criado em 1997, o projeto chega à sua décima edição e tem o objetivo de aproximar a instituição da comunidade. Neste ano, deve receber cerca de 2.500 pessoas de todo o país, a maior parte de Minas Gerais. Trinta e duas escolas de todo o Estado confirmaram a presença. O diretor do CDTN, Sérgio Filgueiras, disse que até então o público alvo vinha sendo estudantes secundaristas e universitários, mas a partir desta edição, a ordem é ampliar esse leque.

“Queremos atrair também o grande público”, diz, observando que no imaginário coletivo a energia nuclear continua sendo associada a bombas de destruição em massa e ao lixo atômico. “Todo lixo é atômico, toda matéria tem átomo. A expressão ‘lixo atômico’ é totalmente inadequada”, ensina. Hoje, a tecnologia nuclear é utilizada em larga escala na esterilização e conservação de alimentos, produtos de higiene e também na área médica, na agricultura e na indústria.

Há cerca de um ano, o CDTN implantou no Campus da UFMG uma unidade de radiofármaco, que custou R$ 20 milhões e hoje permite disponibilizar à comunidade as técnicas mais avançadas de diagnóstico médico. Lá é produzido o Flúor 18 - usado para diagnósticos de câncer e de problemas cardiovasculares e neurológicos –, que é fornecido para hospitais de Minas e de Brasília e, em pouco tempo, para instituições médicas da Bahia.

Filgueiras esclarece ainda que não existe segredos nucleares, mas sim mistérios, como o da não percepção, da dificuldade de detenção. “As radiações alfa e gama não são captadas por nossos sentidos, não têm cor ou cheiro. É preciso equipamentos especiais para observá-las”.

O mito de que a indústria nuclear é uma ameaça constante para a humanidade também é colocado por água abaixo pelo cientista. Segundo ele, a indústria nuclear é a única que cuida de seus rejeitos desde o seu nascedouro. “Esse lixo tem pai, mãe, CPF e endereço e é cuidadosamente tratado e armazenado”, garante, assegurando que dificilmente se repetirá no país o acidente ocorrido em Goiânia com a cápsula de Césio 137 (elemento resultante da fissão nuclear do urânio), pois essa tecnologia caiu em desuso.

A engenheira química do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo, Tânia Amaral, veio a BH para apresentar a maquete do submarino nuclear brasileiro, que está em fase de desenvolvimento desde 1988 e deve ser construído até o início da década de 2020. Segundo ela, o submarino de guerra medirá 100 metros de comprimento por 10 de diâmetro, transportará oito possantes torpedos e será usado para patrulhar a costa do país e tem vantagem de ficar oculto a radares.

O gerador atômico superblindado terá capacidade para 11 megawatt, que daria para suprir a energia de uma cidade com 20 mil habitantes. “É como se fosse uma usina termelétrica, mas no lugar de carvão usa-se a energia nuclear”, diz a engenheira.

A maquete do submarino atômico é a que mais atraia atenção dos visitantes. Os estudantes do Colégio Técnico da UFMG, André Lobato e Victor Galvão, de 16 anos, ficaram boquiabertos com a s explicações da engenheira da Marinha. “Impressionou a informação de que esse submarino não utiliza combustível fóssil e fica invisível para os inimigos”, disse Victor. “Tinha alguma noção do que era energia atômica, mas nunca tinha visto de perto tantas maquetes e ouvido explicações tão detalhadas”, completou o amigo.

A área de esterilização de alimentos e de outros produtos também atraiu a atenção dos estudantes. O pesquisador do Instituto de Engenharia Nuclear no Rio de Janeiro, Danilo Teixeira, detalhou como é procedida a fiscalização e o licenciamento para essa finalidade. “As fontes radioativas estão presentes na indústria, onde são aplicadas no controle de qualidade, por exemplo. A irradiação de alimentos, no entanto, ainda engatinha no país, devendo ser utilizada em quatro ou cinco anos”, disse.

A professora da Escola São Tomás de Aquino, Mary Pereira, monitorou ontem um grupo de 50 alunos daquela instituição de ensino. Mais do que uma aula prática, os estudantes receberão notas em Física, Biologia e Química pelo relatório técnico que farão sobre a visita. “Tudo que é diferente e traz inovações sempre desperta a atenção dos alunos”, disse a mestra.

Quem não tiver tempo de visitar a feira tecnológica poderá agendar, a qualquer dia, uma visita ao CDTN. Segundo o diretor Filgueiras, os 60 laboratórios estão abertos à visitação pública, em qualquer dia da semana, e os professores prontos para explicar cada detalhe do trabalho lá realizado. Visitas de grupos devem ser agendadas pelo telefone (31) 3069-3416 e 3069-3321.

 

Fonte: Hoje em Dia