Os Profetas

por André Candreva publicado 15/03/2018 17h12, última modificação 15/03/2018 17h12

A série de profetas de Congonhas é uma das mais completas da iconografia cristã ocidental. Além dos profetas maiores, figuram oito profetas menores, tendo sido naturalmente selecionados os primeiros na ordem do cânon bíblico. A teologia cristã fixa em 16, o número ideal de profetas, que resulta da soma dos 12 apóstolos e quatro evangelistas. Os quatro maiores profetas, assim chamados pela maior quantidade de textos proféticos escritos, correspondem aos evangelistas Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. Os doze profetas menores, correspondentes aos apóstolos são Ozéias, Joel, Amos, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. No conjunto esculpido por Aleijadinho há a substituição de Miquéias por Baruc, discípulo e secretário de Jeremias, que não integra a lista oficial de profetas, uma vez que seus textos ficaram integrados aos de Jeremias na edição da Vulgata.

 

Aleijadinho não apenas respeitou a ordenação da Cânon bíblico para a escolha dos Profetas de Congonhas, como ainda situou-os no adro em posição que seguem de perto a referida ordenação. Isaías e Jereminas ocupam os primeiros postos à entrada. No terraço intermediário, encontra-se Baruc à esquerda e Ezequiel à direita. Finalmente, alcançando o nível superior, temos nas posições de honra, Daniel e Oséias seguido imediatamente por Joel. Ocupando os ângulos laterais da esquerda, estão Amós, Abdias e Jonas, sendo que Naum e Habacuc ocupam posições correspondentes à direita. A trajetória de uma seta numa linha contínua sobre a planta do adro, seguindo a ordem descrita, revelaria um desenho em ziguezague para a parte central das escadarias, com alternância de setas para a direita e oblíquas para a esquerda. Duas grandes diagonais se cruzam ao centro do último patamar, unem Joel a Amós e Jonas a Naum. O término da trajetória é assinalado, de ambos os lados, pela oblíquas que unem Amós e Abdias e Naum a Habacuc.

 

No norte da Europa, especialmente na região de Flanders, se estabeleceu o tema da caracterização dos profetas, patriarcas e outros personagens bíblicos, com vestimentas exóticas e complicadas, que incluíam longos casacos e mantos debruados de baixas bordadas, completados por barretes em forma de turbantes à "Moda turca".

 

São portanto comuns as representações de personagens vestidos "à moda turca" na arte portuguesa no período entre 1500 a 1800. Aleijadinho teve certamente conhecimento do tema, através de gravuras, forma usual da difusão dos temas iconográficos e artísticos na era anterior à fotografia. Tanto que a coroa de louros de Daniel e a baleia de Jonas são curiosamente análogas às gravuras editadas em Florença no século XV.

 

      

     Profeta Abdias                    Profeta Amós           Profeta Baruc

       

      Profeta Daniel                   Profeta Ezequiel                          Profeta Naum

     

                    Profeta Habacuc       Profeta Isaias               Profeta Jeremias

    

        Profeta Joel              Profeta Jonas                 Profeta Oséias