Igreja de Nossa Senhora da Soledade
A Capela de Nossa Senhora da Soledade foi construída na primeira metade do século XVIII, primeiro como filial da Matriz de Ouro Branco, posteriormente, de Congonhas. Conforme registrou Cônego Trindade (1825), esta Capela foi autorizada por provisão em 9 de novembro de 1756. Trata-se, portanto, de uma construção posterior àquela anterior a 1735, como vimos, e edificada em local diferente da primitiva. Não existe referência histórica quanto à época de execução dos trabalhos de ornamentação e nem quanto à autoria do risco da edificação.
Relatórios do IEPHA/MG informam que o templo mostra-se “no exterior e interior como o geral das capelas mineiras do final do século XVIII” e os “altares de princípio do século XIX, não apresentando pintura nos forros”. O entorno guarda “o caráter costumeiro dos arraiais de mineração do interior das Gerais: o casario ... se alimentando na simplicidade e integrado harmoniosamente no conjunto da praça”.
A sineira da Capela, separada do corpo da edificação, solução típica das primitivas capelas mineiras, localiza-se na parte frontal do adro, na lateral esquerda, com estrutura simples de esteios de madeira e cobertura com telhas coloniais.
O partido arquitetônico, característico do século XVIII, apresenta-se com a clássica composição de um retângulo alongado em forma de “T” e abriga a nave, a capela mor, ladeada pela sacristia e consistório. As capelas, com essa concepção arquitetônica repetem esse tipo de composição e estão disseminadas por todo o território mineiro. Observam-se, entretanto, pequenas variações nas proporções, na composição do frontispício, no acabamento de beiradas e em outros detalhes. A nave e a capela-mor são separadas pelo arco cruzeiro. As circulações podem ser feitas externamente através da portada e das portas laterais da nave e das sacristias. Acima do átrio, que apresenta forro decorado com bela pintura, localiza-se o coro ao qual se tem acesso por uma escada de madeira localizada à direita de quem entra e com degraus de convite.
O sistema construtivo utilizado na edificação foi o de alvenaria de pedra com embasamento corrido, cujo emprego amplia-se em Minas no terceiro quartel do século XVIII. A cobertura em telhas cerâmicas de capa e bica é estruturada no sistema de caibros armados, de adoção corrente por todo aquele século. A volumetria também se organiza segundo o padrão da arquitetura religiosa nas Minas, com os espaços da nave, o da capela-mor e os da sacristia e consistório configurando volumes diferenciados em altura, do mais alto para o mais baixo e com telhados independentes que expressam claramente a organização interior.
A fachada da Capela, aparentemente maciça, movimenta-se com a “ondulação do frontão, o desenho do óculo e elementos esculpidos em pedra, que já empregam motivos do repertório rococó”, conforme consta no “Projeto de Obra Escola Conservação e Restauração da Matriz de Soledade/IEPHA/MG”.
A composição dos frontispícios, a partir dos meados do setecentos, apresenta novidades com a duplicação das pilastras laterais. A linha superior do frontão, com óculo ao centro e encimada por uma cruz, movimenta-se em curvas e contracurvas, com rica ornamentação e detalhes gerais de acabamento das fachadas. O coroamento da fachada faz-se por meio de entablamento em cantaria de pedra e com dois coruchéus nas extremidades. No decorrer do século XVIII, os frontões apresentavam-se mais ricos e com formas mais elegantes e graciosas. A fachada, decorada com belos ornatos, apresenta fenestração em “V”, esquema adotado nas primeiras décadas desse século, com vãos em número de três, sendo uma portada almofadada e duas janelas do coro que recebem sobrevergas. As guarnições dos três vãos centrais, das pilastras intermediárias e dos cunhais são em cantaria.
No seu interior, a Capela apresenta capela-mor com retábulo rococó em variações de azul e branco, com detalhes em douramento. Acima da mesa, o sacrário é coroado por verga alteada. O retábulo estrutura-se em colunas e pilastras, mediadas por nichos. As colunas têm terço inferior torso e parte superior em caneluras e as pilastras têm forma de estípite. Entablamento com curvas e contra curvas encima as colunas, nichos e pilastras e
sustenta arco pleno da boca rendilhada do camarim. Nas laterais existem dois anjos esculpidos. O coroamento é formado por tarja segura por outros dois anjos. O camarim tem trono escalonado em cinco níveis e suas paredes apresentam padrão reticulado losangular em elementos fitomorfos. Seu forro em abóbada de berço é decorado por estrelas douradas sobre azul cerúleo. O fundo plano apresenta cortinas em seu arco superior.
Os retábulos colaterais, em estilo rococó, têm tons claros de azul, branco e dourado na policromia. São idênticos em suas estruturas, variando
apenas em pequenos detalhes. Suas mesas, são decoradas por pinturas com elementos fitomorfos. Acima das mesas, postam-se duas mísulas com sacrário no centro, intercaladas por dois espelhos. Estruturam-se em duas colunas apoiadas nas mísulas, com caneluras nas laterais. Entre as colunas e as bocas dos camarins, decoradas com volutas e angras, encontram-se dois nichos. Entablamentos encimam as colunas e de suas extremidades partem duas mísulas suportando anjos esculpidos. No meio, faixa em arco pleno, arqueada, apresenta sulcos raionados e ovalados em
relevo. Acima do arco, dois anjos alados sustentam uma tarja dourada e branca. O coroamento é por baldaquino arqueado na forma de verga alteada. O arco cruzeiro em cantaria tem tarja central ladeada por dois anjos. O púlpito do lado do Evangelho apoia-se sobre mísula em cantaria. Seus painéis são decorados por rocalhas douradas. O forro do nártex apresenta três caixotões emoldurados com pinturas rococó.
Povoado de Soledade:
Levantamentos históricos apontam que o antigo povoado de Soledade tem suas origens no segundo quartel do século XVIII.
No mapa dos “Padres Matemáticos”, registro cartográfico confeccionado entre os anos de 1734 e 1735, esse local encontra-se assinalado indicando a existência de uma capela. Trata-se da primitiva Capela de Nossa Senhora da Soledade, cuja ancianidade é confirmada pelos documentos do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, na certidão de batismo do inconfidente Cônego Luís Vieira da Silva, datada de 21 de fevereiro de 1735, bem como no registro de casamento de seus pais realizado dois anos antes.
O povoado de Soledade pertenceu ao município de Ouro Preto até 1836 quando seu território foi desmembrado e incorporado a Congonhas do Campo.
A partir do século seguinte, em 1926, Soledade passou a ser conhecido pelo seu nome atual, Lobo Leite.
Em 1938, com a emancipação de Congonhas, se tornou distrito pertencente ao recém criado município.
Fonte: IEPHA/MG